terça-feira, 30 de abril de 2013

01 de Maio: Dia de Luta e de Luto!!!

Durante muito tempo no movimento estudantil, tínhamos em nossas convicções muitas certezas e mais dúvidas, e elas  teimavam em aparecer em vários momentos, como por exemplo, em congressos, cansamos em debater nos bastidores que a posição de grupos mais a direita, ou completamente da direita, estavam com a mesma proposição nossa, e isso levanta uma questão, eles evoluíram ou nós estamos errados?

Sei que esse 1º de maio temos que lembrar por que esse dia? Um dia de luta e de luto pela morte de milhões de companheiros durante tantos anos de opressão capitalista!

Não há, repito, não há nenhum motivo de comemoração nesse 1º de maio, agora mesmo olho a TV e vejo chamadas de festas, engodo, nada mais que engodo, enquanto houver a mão pesado do capital dirigindo nossas vidas na sociedade, nada teremos para comemorar, desgraçadamente vejo sorrisos, o poder central do país criou um pragmatismo soberbo que tenta empurrar pela goela a baixo toda a história de luta dessa data.

Chegará o dia em que nosso ódio acumulado será colocado para fora! Amanhã será novo dia, cantou o poeta, não pensem que a história vai parar por que os donos do mundo querem, a roda continua, mesmo na mais absoluta escuridão intelectual que vivemos, na mais penosa sorte de milhares que sequer tem o que comer amanhã, insisto, não desistam ainda, nossas esperanças devem vir acompanhadas de um profunda solidariedade pelo oprimidos do planeta, do mesmo modo com uma profunda sensação de indignação pelas migalhas que nos ofertam.

Continuem de pé, lutando!

Estaremos nessa caminhada, que só terminará com nossa morte ou com a destruição total do capitalismo, não há nenhuma forma de coalizão com o capital, para eles só a nossa rebeldia, e que nesse dia de luta e de luto, possamos lembrar os que tombaram no caminho, a eles nossa dedicação a luta revolucionária pela abolição da propriedade privada!

Amanhã estaremos nas ruas com um só sentimento, de esperança e fé na capacidade de lutar dos oprimidos, pois é neles que a coleira aperta, e um amanhã, basta apenas um amanhã explodirá um felicidade sem igual, de uma sociedade diferente, combinando e se encontrando, uma época de felicidade, que será construída sobre os escombro do capitalismo carcomido, um só amanhã e ele virá!

sábado, 20 de abril de 2013

A esquizofrenia do ser revolucionário - II


O debate da utilização de mecanismos que propiciem a esquizofrenia a partir de modificações na base produtiva da sociedade, ainda é uma teoria na qual trabalhamos, esses artigos tem apenas a intenção de socializar nossa mais profunda reflexão sobre o tema, obviamente que isto está previsto no processo metodológico adotado, a medida que levanta-se uma hipótese, eleva-se um debate de prós e contras necessários para consolidação da teoria aqui abordada, até por que as ciências sociais hoje definitivamente não é mais a mesma dos últimos dois séculos, e não podemos correr o risco, em um período aonde a comunicação é mais veloz que o pensamento, em ouvir, no limite da jornada cientifica, as diferentes situações provocadas, mas isso deixarei para outro momento o debate de cunho metodológico.

Deve-se recordar que no artigo anterior mencionava três elementos que confundia-se combinadamente, a velocidade da transformação, o aporte dos recursos financeiros mundiais e por fim, a criação de uma exclusividade ideológica. Discutíamos como esse processo se deu e quais seus reflexos nas atuais crises econômicas, mas acima de tudo, como foi patrocinado o desmonte do bloco soviético.

Vamos agora dar continuidade a análise do processo em si, de sua velocidade, de quais maneiras ela foi combinada com a introdução da loucura, do desespero e da esquizofrenia na vanguarda mais avançada, ou seja, dos legítimos comunistas. Lembrando que em tese esse seria o último elo da corrente que deveria ser quebrado, para a prevalência de uma ideologia única de dominação.

Quando se pensa em revolução logo se tem a idéia de uma profunda transformação, de forma rápida e por vezes dolorosa, ao longo da história visualizamos diferentes tipos de revoluções, que podemos mesmo classificar e encontrar parâmetros comparativos, ou seja, elementos que podem ser identificados no decorrer dos acontecimentos, como fato social analisado.

A história da humanidade sempre guardou elementos que em sua gênese acumulativa traria contradições inerentes ao processo de desconstrução/construção de eventos ou de fatos, assim foi com o Cristianismo, Com as Grandes Navegações, com a Revolução Industrial, Com a Revolução Francesa, Com as duas grandes guerras, com a Revolução Bolchevique e por fim com a Guerra Fria. Em todos esses eventos históricos, podemos construir simetrias, elementos que se combinam e interagem com o restante do globo. Não são fatos isolados em si, mas que de alguma maneira modificaram permanentemente a forma como o mundo é.

Contudo, ousou afirmar que em nenhum outro evento foi tão rápido, tão veloz, como foi a derrocada do bloco socialista!

Eu sei, que a velocidade é relativa ao tempo e ao espaço, nem vou me deter nesse assunto, até porque isso aqui não é quântica física, mas fatos sociais, exemplifiquemos, quantos anos levou o Cristianismo para se absorvido pelo Estado Romano? Qual foi o período de tempo que durou as Grandes Navegações? Mesmo a Revolução Industrial de sua gênese até o apogeu? As duas Grandes Guerras, os seus fatos e desdobramentos?

O tempo para se constituir, para se consolidar e para modificar a realidade, influenciando mesmo anos depois dos seus acontecimentos! No final da década de 90 do século passado o Socialismo já não era mais discutido nos principais periódicos do globo. Em menos de 10 anos, foi simplesmente eliminado das rodas academicas  dos jornais e noticiário, mesmo na internet virou letra morta, sem acesso para se tornar primeiro lugar com sua hasteg, sem muitos comentários ou curtições.

Deve-se compreender que esse processo foi calmamente planejado, detalhadamente orquestrado e minuciosamente executado, modificar a base econômica do globo, abolir uma rede complexa de ideias e pensamentos e cultivar a loucura em uma determinada parcela da população. Para além da teoria de conspiração, a contra revolução arquitetava sua vingança, mas não bastava a substituição do modelo econômico/político, era necessário ir além, era preciso construir um tipo de vingança que modificou, não somente o comportamento, ou mesmo o processo ideológico em si, mas culminaria com a decodificação de um novo gene, algo que combatesse a solidariedade humana, e o que nos transforma em seres sociais, esse processo deverá ir muito além ainda da nossa própria imaginação, mas o que cabe aqui é desvendar o primeiro ato.

Judas-Asvero

MAIS UMA CONTRIBUIÇÃO DO COMPANHEIRO CARLOS SÉRGIO SILVA DA SILVA, DIRETO DE BRASÍLIA (DF)

Euclides da Cunha, Judas-Asvero – in:  Cunha, Euclides da, 1866-1909. Um paraíso perdido : reunião de ensaios amazônicos / Euclides da Cunha ; seleção e coordenação de Hildon Rocha. -- Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2000. 393 p. -- (Coleção Brasil 500 anos) 1. Amazônia, descrição. 2. Usos e costumes, Amazônia. 3. Literatura, Brasil. I. Título. II. Série.

No sábado de Aleluia os seringueiros do Alto Purus desforram-se de seus dias tristes. É um desafogo. Ante a concepção rudimentar da vida santificam-se-lhes, nesse dia, todas as maldades.
Acreditam numa sanção litúrgica aos máximos deslizes.  Nas alturas, o Homem-Deus, sob o encanto da vinda do filho ressurreto e despeado das insídias humanas, sorri, complacentemente, à alegria feroz que arrebenta cá embaixo.

E os seringueiros vingam-se, ruidosamente, dos seus dias tristes.  Não tiveram missas solenes, nem procissões luxuosas, nem lava-pés tocantes, nem prédicas comovidas. Toda a semana santa correu-lhes na mesmice torturante daquela existência imóvel, feita de idênticos dias de penúrias, de meios-jejuns permanentes, de tristezas e de pesares, que lhes parecem uma interminável sexta-feira da Paixão, a estirar-se, angustiosamente, indefinida, pelo ano todo afora.

Alguns recordam que nas paragens nativas, durante aquela quadra fúnebre, se retraem todas as atividades – despovoando-se as ruas, paralisando-se os negócios, ermando-se os caminhos – e que as luzes agonizam nos círios bruxuleantes, e as vozes se amortecem nas rezas e nos retiros, caindo em grande silêncio misterioso sobre as cidades, as vilas e os sertões profundos onde as gentes entristecidas se associam à mágoa prodigiosa de Deus.

E consideram, absortos, que esses sete dias excepcionais, passageiros em toda a parte e em toda a parte adrede estabelecidos a maior realce de outros dias mais numerosos, de felicidade–lhes são, ali, a existência inteira, monótona, obscura, dolorosíssima e anônima, a girar acabrunhadoramente na via dolorosa inalterável, sem princípio e sem fim, do círculo fechado das “estradas”.

Então pelas almas simples entra-lhes, obscurecendo as miragens mais deslumbrantes da fé, a sombra espessa de um conceito singularmente pessimista da vida: certo, o redentor universal não os redimiu; esqueceu-os para sempre, ou não os viu talvez, tão relegados se acham à borda do rio solitário, que no próprio volver das suas águas é o primeiro a fugir, eternamente, àqueles tristes e desfreqüentados rincões.

Mas não se rebelam, ou blasfemam. O seringueiro rude, ao revés do italiano artista, não abusa da bondade de seu deus desmandando-se em convícios. É mais forte; é mais digno. Resignou-se à desdita. Não murmura. Não reza. As preces ansiosas sobem por vezes ao céu, levando disfarçadamente o travo de um ressentimento contra a divindade; e ele não se queixa.

Tem a noção prática, tangível, sem raciocínios, sem diluições metafísicas, maciça e inexorável – um grande peso a esmagar-lhe inteiramente a vida – da fatalidade; e submete-se a ela sem subterfugir na cobardia de um pedido, com os joelhos dobrados. Seria um esforço inútil.

Domina-lhe o critério rudimentar uma convicção talvez demasiado objetiva, mais irredutível, a entrar-lhe a todo o instante pelos olhos adentro, assombrando-o: é um excomungado pela própria distância que o afasta dos homens; e os grandes olhos de Deus não podem descer até àqueles brejais, manchando-se.

Não lhe vale a pena penitenciar-se, o que é um meio cauteloso de rebelar-se, reclamando uma promoção na escala indefinida da bem-aventurança. Há concorrentes mais felizes, mais bem protegidos, mais numerosos, e o que se lhe figura mais eficaz, mais vistos, nas capelas, nas igrejas, nas catedrais e nas cidades ricas onde se estadeia o fausto do sofrimento uniformizado de preto, ou fugindo na irradiação das lágrimas, e galhardeando tristezas... Ali – é seguir, impassível e mudo, estoicamente, no grande isolamento da sua desventura.

Além disto, só lhe é lícito punir-se da ambição maldita que o conduziu àqueles lugares para entregá-lo, maniatado e escravo, aos traficantes impunes que o iludem – e este pecado é o seu próprio castigo transmudando-lhe a vida numa interminável penitência.

O que lhe resta a fazer é desvendá-la e arrancá-la da penumbra das matas, mostrando-a, nuamente, na sua forma apavorante, à humanidade longínqua... Ora, para isso, a Igreja dá-lhe um emissário sinistro: Judas; e um único dia feliz: o sábado prefixo aos mais santos atentados, às balbúrdias confessáveis, à turbulência mística dos eleitos e à divinização da vingança.

Mas o mostrengo de palha, trivialíssimo, de todos os lugares e de todos os tempos, não lhe basta à missão complexa e grave. Vem batido demais pelos séculos em fora, tão pisoado, tão decaído e tão apedrejado que se tornou vulgar na sua infinita miséria, monopolizando o ódio universal e apequenando-se, mais e mais, diante de tantos que o malquerem.

Faz-se-lhe mister, ao menos, acentuar-lhe as linhas mais vivas e cruéis; e mascarar-lhe no rosto de pano, a laivos de carvão, uma tortura tão trágica, e em tanta maneira próxima de realidade, que o eterno condenado pareça ressuscitar, ao mesmo tempo, que a sua divina vítima, de modo a desafiar uma repulsa mais espontânea e um mais compreensível revide, satisfazendo à saciedade as almas ressentidas dos crentes, com a imagem tanto possível perfeita da sua miséria e das suas agonias terríveis.

E o seringueiro abalança-se a esse prodígio de estatuária, auxiliado pelos filhos pequeninos, que deliram, ruidosos, em risadas, a correrem por toda a banda, em busca das palhas esparsas e da ferragem repulsiva de velhas roupas imprestáveis, encantados com a tarefa funambulesca, que lhes quebra tão de golpe a monotonia tristonha de uma existência invariável e quieta. 

O judas faz-se como se fez sempre: um par de calças e uma camisa velha, grosseiramente cosidos, cheios de palhiças e mulambos; braços horizontais, abertos, e pernas em ângulo, sem juntas, sem relevos, sem dobras, aprumando-se, espantadamente, empalado, no centro do terreiro. Por cima uma bola desgraciosa representando a cabeça. É o manequim vulgar, que surge em toda a parte e satisfaz à maioria das gentes.

Não basta ao seringueiro. É-lhe apenas o bloco de onde vai tirar a estátua, que é a sua obra-prima, a criação espantosa do seu gênio rude longamente trabalhado de reveses, onde outros talvez distingam traços admiráveis de uma ironia subtilíssima, mas que é para ele apenas a expressão concreta de uma realidade dolorosa.

E principia, às voltas com a figura disforme: salienta-lhe a afeiçoa-lhe o nariz; reprofunda-lhe as órbitas; esbate-lhe a fronte; acentua-lhe os zigomas; e aguça-lhe o queixo, numa massagem cuidadosa e lenta; pinta-lhe as sobrancelhas, e abre-lhe com dois riscos demorados, pacientemente, os olhos, em geral tristes e cheios de um olhar misterioso; desenha-lhe a boca, sombreada de um bigode ralo, de guias decaídas aos cantos. Veste-lhe, depois, umas calças e uma camisa de algodão, ainda servíveis; calça-lhe umas botas velhas, cambadas...

Recua meia dúzia de passos. Contempla-a durante alguns minutos. Estuda-a. Em torno a filharada, silenciosa agora, queda-se expectante, assistindo ao desdobrar da concepção, que a maravilha. Volve ao seu homúnculo: retoca-lhe uma pálpebra; aviva um ríctus expressivo na arqueadura do lábio; sombreia-lhe um pouco mais o rosto, cavando-o; ajeita-lhe melhor a cabeça; arqueia-lhe os braços; repuxa e retifica-lhe as vestes...

Novo recuo, compassado, lento, remirando-o, para apanhar de um lance, numa vista de conjunto, a impressão exata, a síntese de todas aquelas linhas; e renovar a faina com uma pertinácia e uma tortura de artista incontentável.

Novos retoques, mais delicados, mais cuidadosos, mais sérios: um tenuíssimo esbatido de sombra, um traço quase imperceptível na boca refegada, uma torção insignificante no pescoço engravatado de trapos...

E o monstro, lento e lento, num transfigurar-se insensível, vai-se tornando em homem. Pelo menos a ilusão é empolgante...

Repentinamente o bronco estatuário tem um gesto mais comovedor do que o parlansiosíssimo, de Miguel Ângelo; arranca o seu próprio sombreiro; atira-o à cabeça de Judas; e os filhinhos todos recuam, num grito, vendo retratar-se na figura desengonçada e sinistra do seu próprio pai.

É um doloroso triunfo. O sertanejo esculpiu o maldito à sua imagem. Vinga-se de si mesmo: pune-se, afinal, da ambição maldita que o levou àquela terra; e desafronta-se da fraqueza moral que lhe parte os ímpetos da rebeldia recalcando-o cada vez mais ao plano inferior da vida decaída onde a credulidade infantil o jungiu, escravo, à gleba empantanada dos traficantes, que o iludiram.

Isto, porém, não lhe satisfaz. A imagem material da sua desdita não deve permanecer inútil num exíguo terreiro de barraca, afogada na espessura impenetrável, que furta o quadro de suas mágoas, perpetuamente anônimas, aos próprios olhos de Deus.

O rio que lhe passa à porta é uma estrada para toda a terra. Que a terra toda contemple o seu infortúnio, o seu exaspero cruciante, a sua desvalia, o seu aniquilamento iníquo, exteriorizados, golpeantemente, e propalados por um estranho e mudo pregoeiro...

Embaixo, adrede construída, desde a véspera, vê-se uma jangada de quatro paus boiantes, rijamente travejados. Aguarda o viajante macabro. Condu-lo, prestes, para lá, arrastando-o em descida, pelo viés dos barrancos avergoados de enxurros.

A breve trecho a figura demoníaca apruma-se, especada, à popa da embarcação ligeira. Faz-lhe os últimos reparos: arranca-lhe ainda uma vez as vestes; arruma-lhe às costas um saco cheio de ciscalho e pedras; mete-lhe à cintura alguma inútil pistola enferrujada, sem fechos, ou um caxenrenguengue  gasto; e fazendo-lhe curiosas recomendações, ou dando-lhe os mais singulares conselhos, impele, ao cabo, a jangada fantástica para o fio da corrente.

E Judas feito Asvero vai avançando vagarosamente para o meio do rio. Então os vizinhos mais próximos, que se adensam, curiosos, no alto das barrancas, intervêm ruidosamente, saudando com repetidas descargas de rifles, aquele bota-fora.

As balas chofram a superfície líquida, eriçando-a; cravam-se na embarcação, lascando-a; atingem o tripulante espantoso; trespassam-no. Ele vacila um momento no seu pedestal flutuante, fustigado a tiros, indeciso, como a esmar um rumo, durante alguns minutos, até reavivar no sentido geral da correnteza.

E a figura desgraciosa, trágica, arrepiadoramente burlesca, com os seus gestos desmanchados, de demônio e truão, defasiando maldições e risadas, lá se vai na lúgubre viagem sem destino e sem fim, a descer, a descer sempre, desequilibradamente, aos rodopios, tonteando em todas as voltas, à mercê das correntezas, “de bubuia” sobre as grandes águas.

Não pára mais. À medida que avança, o espantalho errante vai espalhando em roda a desolação e o terror; as aves retransidas de medo, acolhem-se, mudas, ao recesso das frondes; os pesados anfíbios mergulham, cautos, nas profunduras, espavoridos por aquela sombra que ao cair das tardes e ao subir das manhãs se desata estirando-se, lutuosamente, pela superfície do rio; os homens correm às armas e numa fúria recortada de espantos, fazendo o “pelo-sinal” e aperrando os gatilhos, alvejam-no desapiedadamente.

Não defronta a mais pobre barraca sem receber uma descarga rolante e um apedrejamento. As balas esfuziam-lhe em torno; varam-no; as águas, zimbradas pelas pedras encrespam-se em círculos ondeantes; a jangada balança; e, acompanhando-lhe os movimentos, agitam-se-lhe os braços e ele parece agradecer em canhestras mesuras as manifestações rancorosas em que tempesteiam tiros, e gritos, sarcasmos pungentes e esconjuros e sobre tudo maldições que revivem na palavra descansada dos matutos, este eco de um anátema vibrado há vinte séculos: – Caminha, desgraçado! Caminha.

Não pára. Afasta-se no volver das águas. Livra-se dos perseguidores. Desliza, em silêncio, por um “estirão” retilíneo e longo; contorneia a arquadura suavíssima de uma praia deserta. De súbito, no vencer uma volta, outra habitação; mulheres e crianças, que ele surpreende à beira-rio, a subirem, desabaladamente, pela barranca acima, desandando em prantos e clamor.

E logo depois, do alto, o espingardeamento, as pedradas, os convícios, os remoques. Dois ou três minutos de alaridos e tumulto, até que o judeu errante se forre ao alcance máximo da trajetória dos rifles, descendo... E vai descendo, descendo... por fim não segue mais isolado.

Aliam-se-lhe na estrada dolorosa outros sócios de infortúnio; outros aleijões apavorantes sobre as mesmas jangadas diminutas entregues ao acaso das correntes, surgindo de todos os lados, vários no aspeito e nos gestos: ora muito rijos, amarrados aos postes que os sustentam, ora em desengonços, desequilibrando-se aos menores balanços, atrapalhadamente, como ébrios; ou fatídicos, braços alçados, ameaçadores, amaldiçoando; outros humílimos, acurvados num acabrunhamento profundo; e por vezes, mais deploráveis, os que se divisam à ponta de uma corda amarrada no extremo do mastro esguio e recurvo, a balouçarem, enforcados...

Passam todos aos pares, ou em filas, descendo, descendo vagarosamente... Às vezes o rio alarga-se num imenso círculo; remansa-se; a sua corrente torce-se e vai em giros muito lentos perlongando as margens, traçando a espiral amplíssima de um redemoinho imperceptível e traiçoeiro.

Os fantasmas vagabundos penetram nestes amplos recintos de águas mortas, rebalçadas; e estacam por momentos. Ajuntam-se. Rodeiam- se em lentas e silenciosas revistas. Misturam-se. Cruzam então pela primeira vez os olhares imóveis e falsos de seus olhos fingidos; e baralham-se-lhes numa agitação revolta os gestos paralisados e as estátuas rígidas.


Há a ilusão de um estupendo tumulto sem ruídos e de um estranho conciliábulo, agitadíssimo, travando-se em segredos, num abafamento de vozes inaudíveis. Depois, a pouco e pouco, debandam. Afastam-se; dispersam- se. E acompanhando a correnteza, que se retifica na última espira dos remansos – lá se vão, em filas, um a um, vagarosamente, processionalmente, rio abaixo, descendo..

terça-feira, 9 de abril de 2013

ENCONTRANDO BELEZA NO MEIO DO KAOS

Quais momentos que descobrimos que nossas certezas não serão concretizadas?
Aonde a dúvida se apossa de nosso ser?
Quando a crueldade humana se faz presente?
Aonde a nossa história, não chega a ser conto?
A fuga, o desespero, a tragédia e o drama, são apenas ferramentas do dia-a-dia.
Lama, maldade, soberba, fome, flagelos do Caos!
Morte, iniqüidade, mediocridade, lastimas e arrependimentos!




Cercados, o que se vê?
Tempo presente, vidas já passadas e futuro incerto!
Como perceber os sinais que ainda temos esperança?
Profetas do Caos, ou do “quando pior melhor”.
Será necessária a destruição de tudo?
Encontraremos sábias palavras que possa nortear em outra direção?
Encontraremos o mestre dizendo “quando não houver mais esperança, olhe para a beleza”!
Aprenderemos a tempo de salvar nosso mundo?
Afinal onde se esconde a beleza?
Paisagens, belezas afrodisíacas de um paraíso já morto!
Vidas ceifadas pela ganância e pela estupidez humana!
O fel de uma sub-humanidade escorrendo pelas nossas bocas!
Dogmas, medos e preconceitos determinando o rumo da vida social!
Obscurantismo na poesia, nas artes e na literatura!
 Voltando-se para a inexistência de deuses e demônios!
A loucura mercantil sendo tomada como consciência hegemônica.
Sexo, drogas e rock roll como vida saudável, perto dos representantes pedófilos.
Como pastores arregimentando dinheiro, fortuna e sortilégios.
Afinal para onde caminha a humanidade?
Que seja o Caos o elemento revitalizador de uma nova ordem!
Não podemos mais ficar passivos
Vendo crianças morrendo de fome pelo mundo,
Sim crianças morrem por inanição.  
Pessoas são espancadas pela sua opção sexual!
Mulheres mutiladas para não sentir prazer!
Agressões de todas as formas possíveis.
Aonde enxergar a beleza?
Aonde procurar uma saída?
Desgraçadamente não haverá heróis ou salvadores da pátria.
Só restará a solução da elaboração coletiva.
Da solidariedade.
Do convívio mútuo, harmonioso e respeitoso, mas quando?
Quando a propriedade privada dos meios de produção caírem!
Quando não serão mais lucrativos exércitos de reserva, seja para o trabalho ou para o mercado.
O Socialismo vive!
Vive para quem ainda sonha e busca a felicidade,
Mas ela não está ali, ao alcance das mãos, pior está longe mesmo da imaginação.
Temos que ensinar a sonhar! Sonhar juntos!
Um convite, um desafio ou uma ameaça!
Seja como for, devemos começar agora, pergunte-se o que hoje você fez para um mundo melhor?
Se nada fez, tudo bem, mas ao dormir sonhe, sonhe e sonhe!
Somente hoje os sonhos serão nossas armas.
Somente hoje os sonhos serão nossas palavras.
Somente hoje os sonhos serão nosso futuro.
Sonhe!

sábado, 6 de abril de 2013

A esquizofrenia do ser revolucionário

O processo de desconstrução do Marxismo ao longo dos últimos vinte anos perpassou pela construção de uma mentalidade ocidental-produtivista que determina a loucura existente no conjunto da vanguarda sobrevivente do final da década de 80 do século passado, contudo é necessário construir uma explicação para alguns conceitos aqui tratados são resultado de um processo de reflexão marxista, ou seja, leva em consideração o processo de evolução histórica e dialética da realidade.

Obviamente que esse processo se dá na atual etapa de evolução das forças produtivas, do mesmo modo que os operários ingleses culparam as máquinas pelo crescente número de desempregados, a idéia de que o Marxismo só teria um lugar na história: a lata do lixo não passa de um processo ideológico para construção linear de concepções só justificada pela massiva campanha do fim do Socialismo.

Nunca houve em nenhum momento da humanidade um processo maior e ininterrupto de campanha sistemática contra um pensamento, nem mesmo o cristianismo em seus anos iniciais sofreu tamanha perseguição, toda a tecnologia derramada após a queda do muro de Berlim, inclusive com a popularização da internet foi instrumental para corroborar com a idéia do fim da história. Mesmo pagando um alto preço como, por exemplo, a crise na indústria musical.

O processo de reflexão aqui iniciado é revelador a medida que todas as tecnologias já eram utilizadas pelas forças especiais americanas, mesmo o celular já era utilizado na segunda grande guerra, o diferencial foi a preparação de um discurso único, mas que para tanto era necessário enterra o único elemento capaz de impedir a morte do Marxismo: a resistência de uma vanguarda atuante.

Houve dois processos combinados nesse intuito, o primeiro foi a utilização de políticas de frente populares, como é o caso da America Latina, outra linha adotada que segui esse primeiro processo foi a própria restauração do capitalismo no antigo bloco soviético. O segundo processo foi a construção sedimentar e gradual de loucuras ensejadas no cotidiano da vanguarda resiliente, que é o aspecto a ser analisado nesse artigo. Contudo, é necessário um exercício de paciência para construção do conceito de “mentalidade ocidental-produtivista”.

A loucura, como a conhecemos hoje, passou por profundas transformações ao longo do desenvolvimento humano, mas só se tornou um fenômeno, e conseqüentemente objeto de estudo, a partir da Revolução Industrial, Foucault descreve com maestria esse processo, mas o que cabe nesse pequeno artigo é a síntese que tive a oportunidade de presenciar, quando em uma de suas passagens por Belém no inicio dos anos 90 do século passado, o Jornalista Oliveira Bastos em um das nossas muitas reuniões no período me presenteou como uma síntese das teorias do autor francês, confesso que foi meu primeiro contato com Foucault, em suas palavras Oliveira Bastos falava sobre a loucura, questionava-se se ser socialmente normal deveria ser comum, ou se a loucura seria o estado de loucura fosse apenas a percepção verdadeira de um sociedade em sua loucura mais perplexa?

A pergunta me deixou curioso, mas fiquei esperando o desenrolar de seus comentários, ele sabia do meu interesse, entre um e outro copo de suco, Oliveira Bastos era um raro teórico de saber prático, de auxiliar de Oswaldo de Andrade até a pesquisa na biografia do ex-presidente José Sarney, Oliveira Bastos foi um pesquisador incansável, antes de sua morte revelou que estava pesquisando o papel dos franceses no processo de colonização do Pará e sua influência na Cabanagem, recontando de forma inusitada a própria história do Pará, faleceu sem completar a pesquisa.

Voltando a narrativa de Oliveira Bastos ele dizia que a medida que a Revolução Industrial apresentava suas inovações tecnológicas o homem saindo da idade média ainda não concebia, e por conseqüência não estava preparado para assimilar tão complexo sistema de inovações, ele usou por exemplo, o trem a vapor, acostumados com o cavalo e a carroça, esse homem via em suas viagens velozes uma multifacetada imagens retorcidas na janela do trem, a velocidade transformava o quadro parado e um quadro com movimento, para nós hoje a velocidade do carro olhando da janela já é um sensação no mínimo assustadora, imagina isso para o homem do campo, a forma como a Revolução Industrial invadiu a vida das pessoas, acabou por transformar não somente sua vida econômica, mas também sua psique.

Do frenesi até a esquizofrenia foi apenas um pequeno pulo, uma tênue linha que não poderia ser pensada ou mesmo registrada, mas estava ali sendo manipulada por interesses econômicos, nada detém o progresso, a loucura se manifesta da mesma como um sentido de preservação inata do próprio homem com seu meio ambiente.

A desconstrução da realidade foi rápida demais para ser assimilada pelo próprio corpo, formatado para se relacionar com a natureza, corpo que sofreria outras mudanças a medida do processo de aprofundamento da revolução industrial, formatado para a produção! Logo, a loucura não poderia ser apenas um retardo de compreensão da realidade, ou mesmo a construção de uma realidade especifica. O que é normal ou loucura hoje? Pois é, esse processo ainda está sendo repensado ainda hoje, Lacan é um dos meus preferidos. Mas o que cabe aqui é esse processo de construção do conceito de loucura combinado de forma desigual com o processo de aperfeiçoamento das forças produtiva e seus reflexos imediatos nas relações sociais existentes.

Pois bem, esse é o conceito da mentalidade ocidental-produtivista, um modelo de construções de loucuras a partir do processo de desenvolvimento econômico provocado pela interação entre processos ideológicos definidos, com o saldo de qualidade nos modelos econômicos e produtivos, mas acima de tudo no próprio controle do sistema na modelagem de pensar e de como é conduzido o pensamento a partir da necessidade de dominação.

Esse modelo de construção de loucuras aprendido com a revolução industrial e utilizado como ferramenta política e ideológica, foi largamente utilizado no processo de construção da idéia do fim do Socialismo Real. A internet, com sua comunicação instantânea, o celular, as comunicações via satélite, a transmissão da guerra do Golfo foi um desses elementos de construções de loucuras, tudo bem, ainda estou trabalhando na pesquisa, os dados que comprovam esse processo são mais complexos do que se imagina, mas a descoberta do modelo de construção de loucura, transformando isso em elemento combate ao Marxismo é fato.

O Capitalismo cortou de sua carne para enterrar definitivamente a idéia da socialização dos meios de produção, a internet fora guardada a sete chaves durante quase três décadas, pois o processo de transferências de dados e informações a partir de sistemas logarítmicos representava a perda do controle direto do principal veiculo de controle do sistema: a informação!

Também prejudicava algumas modelos industriais, mas o ganho de ver velado definitivamente a idéia de socialização dos meios de produção valiam o risco, primeiro porque o processo se daria em uma velocidade sem igual, segundo a transformação da base produtiva estava alçado na ampliação do crédito, o que daria sustentação financeira a derrocada do Socialismo real e por fim, permitiria transformar o sonho de uma sociedade sem desigualdade em um flagelo, uma loucura, uma blasfêmia, logo com a exclusividade ideológica do desenvolvimento humano o preço a pagar seria barato por demasia. 

A cada uma dessas premissas são necessários esclarecimentos, mas não caberão nesse pequeno artigo, mas como todos esses elementos estão a pleno pulmões sendo utilizados, deixo a reflexão, mas dedicarei algumas linhas ao processo de financiamento da mudança produtiva envolvendo o fim do Socialismo Real, a expansão do crédito. Não é de hoje que ouvimos a palavra crise econômica mundial, do mesmo modo ouvi-se que a expansão chinesa mantém a economia global, mas em ambos os casos o que se tem é uma única utilização do processo produtivo que se mantém quase estável nas últimas três décadas, apesar do crescimento populacional, dados do BIRD (2010), o que mudou foi o incremento da produção com a diminuição de seus custos, particularmente com a perda de direitos dos trabalhadores e com o próprio avanço tecnológico, contradição?

Se por um lado se mantém os níveis de produção, por outro se tem um aumento no consumo? Exatamente esse processo se dá por um simples calculo, os recursos utilizados para construção das bases capitalistas nos antigos estados do bloco soviético precisavam dar um saldo, logo, o restante do sistema dividiria o espólio deixando para os países em desenvolvimento o papel de manter o crescimento econômico mundial, a expansão do crédito, particularmente a que culminaria com a crise bancária americana, era definitivamente o ponto de convergência e o restante do preço a ser pago pela derrota do Socialismo Real.

O aumento do consumo tem mais haver com a ampliação do crédito do que necessariamente com a redução do valor de produção dos bens produzidos, mas essa equação permite o acumulo de capital para investimentos nos antigos países do Socialismo Real, capitaneado pelo Mercado Comum Europeu, o problema é que a medida que as conquistas era retiradas dos trabalhadores no antigo continente, o processo se retroalimentava, culminando com disputas acirradas entre o novo capital europeu, os interesses americanos e os países em desenvolvimento.

Em resumo, o processo de que levou a degradação econômica da ex-URSS e de seu bloco, obrigou a um reordenamento das relações produtivas mundiais, e o processo de financiamento dessa nova ordem deveria caber aos países ricos, que hoje estão em crise por não suportar em suas contas nacionais os valores cobrados para esse nivelamento mundial, o que se fez, ampliou-se o crédito para circular mais papel moeda, sem o aumento significativo dos valores agregados dos produtos e serviços produzidos no período, até o ponto de desequilíbrio monetário, o que resultou nas crises que acompanhamos nós últimos vinte anos.

O que cabe esclarecer que esses desequilíbrio tende a ser reduzido a medida que a China amplia sua participação na economia mundial, abrindo assim seu próprio mercado para manutenção do processo vegetativo de crescimento econômico do globo, dando um fôlego maior para se gerenciar a crise. 

No próximo artigo comentaremos os outros dois elementos que foram utilizados para a construção da ideia do fim do Socialismo Real e da ideologia comunista.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Papo de surdo e mudo (ou melhor, de Pai e Mãe)

Mãe: Dá uma olhada... Penúltima fileira...
Pai: Repete
Mãe: Termina no verde pra ela dar continuidade, dá pra sacar?
Pai: é seqüência
Pai: não é espelho, é seqüência
Mãe: sim, é seqüência, o q segue, o q vem depois!!!
Pai: Seqüencialmente
Mãe: mas, o vermelho não segue depois do verde
Mãe:não é isso o que está informando
Mãe: não é repetição
Mãe: é seqüência
Pai: o vermelho inicia a seqüência
Pai: o verde finaliza
Pai: depois que acaba, começa ao contrário?
Mãe: hum... tá bom!
Mãe: não começa ao contrário, só não tá informando um verde antes do vermelho...
Mãe: mas, tá ok! deve ser repetição, mesmo
Pai: então é uma seqüência que não repete?
Mãe: ok!
Mãe: disse a ela q estava errado, mas realmente fiquei pensando.

Pode inicialmente parecer um jogral, daqueles que aprendíamos na escola, sob a ligeira observação do professor, mas ao invés disso é um dialogo entre pai e mãe a respeito do dever de casa da filha, confesso que a primeira leitura me deixou perplexo, fiquei absolutamente curioso, com a capacidade imaginativa da filha em desconstruir paradigmas e com a engenhosidade dos país em discutir o dever de casa da prole, algo que deveria ser comum, mas que embute em si, um discurso de carinho, atenção e de cuidado, como poucas vezes eu tive a oportunidade de ver.

Ao querer discutir o discurso aqui representado pela simples ótica de sua análise, nos deparamos com um problema metodológico, pois a análise do discurso a partir das considerações de Roudinesco o objeto de analise é um corte temporal, um pensamento construído para se legitimar um pensamento ou mesmo uma ideologia, bem como em suas estruturas estão inseridas modelos de poder, representadas em sua plenitude.

Confesso que a escola francesa me deixa um pouco inquieto e que no Brasil esse processo toma uma verdade mais humana e mais tupiniquim, onde a brasilidade se apodera do processo de construção dos discursos e assume invariavelmente sentimentos e sensações que nos tocam.

Obviamente que ao se tratar do processo de educação de seus filhos os pais costumam por vezes exagerar nas suas próprias expectativas, mas claramente isso vai depender da própria formação política e ideológica que fundamenta a construção individual e coletiva inseridos no consciente dos indivíduos que ali buscam soluções conjuntas para pequenos momentos da vida cotidiana.

Todo o zelo proposto no discurso representa bem mais que o simples olhar para uma atividade acadêmica da prole, mas representa toda a potencialidade filosófica, política e ideológica de representação a partir da constatação que a filha não tem a menor intenção de se submeter ao processo de dominação hegemônica proposto no exercício, pois o exercício se trata exclusivamente de construir elementos mentais para moldar a forma como a criança deve se comportar socialmente, ou seja, constrói estruturais mentais, a partir do processo de repetição, que faz a criança modificar sua percepção crítica para se adaptar as sugestões de como dever ser, ao invés de construir a capacidade de análise crítica de cada individuo.

Certamente nem os pais perceberam que a criança estava negando o processo de automação que ela estava sofrendo e que sua rebeldia representa um movimento inconsciente de resistência, o que comprova a capacidade humana de rebelar-se mesmo na tenra idade.

Outro ponto que fica latente de observação é o discurso ressonante dos pais, quase poético, devidamente complexo e calorosamente humano, se a poesia pode existir em sua causa mais natural os pais em seu dialogo construíram uma sonoridade filosófica única, combinando traços dialécticos com objectividade metafísica necessários para aflorar a percepção de como construir novos elementos que permitam interagir com a criança a partir mesmo da sua capacidade intelectual.

O fazem com certo descaso (na rede social), mas com uma preocupação instrumental enorme, obviamente que a sonoridade do debate chamou atenção, mas acima de tudo o que chama a atenção e a possibilidade dessa criança ter acesso ao pleno exercício de sua liberdade criativa e como os pais compreendem esse processo para fortalecimento das suas relações emocionais. Critério primeiro para um ser humano ajustado e crítico dos fatores sociais e ambientais que o circulam.