sábado, 6 de abril de 2013

A esquizofrenia do ser revolucionário

O processo de desconstrução do Marxismo ao longo dos últimos vinte anos perpassou pela construção de uma mentalidade ocidental-produtivista que determina a loucura existente no conjunto da vanguarda sobrevivente do final da década de 80 do século passado, contudo é necessário construir uma explicação para alguns conceitos aqui tratados são resultado de um processo de reflexão marxista, ou seja, leva em consideração o processo de evolução histórica e dialética da realidade.

Obviamente que esse processo se dá na atual etapa de evolução das forças produtivas, do mesmo modo que os operários ingleses culparam as máquinas pelo crescente número de desempregados, a idéia de que o Marxismo só teria um lugar na história: a lata do lixo não passa de um processo ideológico para construção linear de concepções só justificada pela massiva campanha do fim do Socialismo.

Nunca houve em nenhum momento da humanidade um processo maior e ininterrupto de campanha sistemática contra um pensamento, nem mesmo o cristianismo em seus anos iniciais sofreu tamanha perseguição, toda a tecnologia derramada após a queda do muro de Berlim, inclusive com a popularização da internet foi instrumental para corroborar com a idéia do fim da história. Mesmo pagando um alto preço como, por exemplo, a crise na indústria musical.

O processo de reflexão aqui iniciado é revelador a medida que todas as tecnologias já eram utilizadas pelas forças especiais americanas, mesmo o celular já era utilizado na segunda grande guerra, o diferencial foi a preparação de um discurso único, mas que para tanto era necessário enterra o único elemento capaz de impedir a morte do Marxismo: a resistência de uma vanguarda atuante.

Houve dois processos combinados nesse intuito, o primeiro foi a utilização de políticas de frente populares, como é o caso da America Latina, outra linha adotada que segui esse primeiro processo foi a própria restauração do capitalismo no antigo bloco soviético. O segundo processo foi a construção sedimentar e gradual de loucuras ensejadas no cotidiano da vanguarda resiliente, que é o aspecto a ser analisado nesse artigo. Contudo, é necessário um exercício de paciência para construção do conceito de “mentalidade ocidental-produtivista”.

A loucura, como a conhecemos hoje, passou por profundas transformações ao longo do desenvolvimento humano, mas só se tornou um fenômeno, e conseqüentemente objeto de estudo, a partir da Revolução Industrial, Foucault descreve com maestria esse processo, mas o que cabe nesse pequeno artigo é a síntese que tive a oportunidade de presenciar, quando em uma de suas passagens por Belém no inicio dos anos 90 do século passado, o Jornalista Oliveira Bastos em um das nossas muitas reuniões no período me presenteou como uma síntese das teorias do autor francês, confesso que foi meu primeiro contato com Foucault, em suas palavras Oliveira Bastos falava sobre a loucura, questionava-se se ser socialmente normal deveria ser comum, ou se a loucura seria o estado de loucura fosse apenas a percepção verdadeira de um sociedade em sua loucura mais perplexa?

A pergunta me deixou curioso, mas fiquei esperando o desenrolar de seus comentários, ele sabia do meu interesse, entre um e outro copo de suco, Oliveira Bastos era um raro teórico de saber prático, de auxiliar de Oswaldo de Andrade até a pesquisa na biografia do ex-presidente José Sarney, Oliveira Bastos foi um pesquisador incansável, antes de sua morte revelou que estava pesquisando o papel dos franceses no processo de colonização do Pará e sua influência na Cabanagem, recontando de forma inusitada a própria história do Pará, faleceu sem completar a pesquisa.

Voltando a narrativa de Oliveira Bastos ele dizia que a medida que a Revolução Industrial apresentava suas inovações tecnológicas o homem saindo da idade média ainda não concebia, e por conseqüência não estava preparado para assimilar tão complexo sistema de inovações, ele usou por exemplo, o trem a vapor, acostumados com o cavalo e a carroça, esse homem via em suas viagens velozes uma multifacetada imagens retorcidas na janela do trem, a velocidade transformava o quadro parado e um quadro com movimento, para nós hoje a velocidade do carro olhando da janela já é um sensação no mínimo assustadora, imagina isso para o homem do campo, a forma como a Revolução Industrial invadiu a vida das pessoas, acabou por transformar não somente sua vida econômica, mas também sua psique.

Do frenesi até a esquizofrenia foi apenas um pequeno pulo, uma tênue linha que não poderia ser pensada ou mesmo registrada, mas estava ali sendo manipulada por interesses econômicos, nada detém o progresso, a loucura se manifesta da mesma como um sentido de preservação inata do próprio homem com seu meio ambiente.

A desconstrução da realidade foi rápida demais para ser assimilada pelo próprio corpo, formatado para se relacionar com a natureza, corpo que sofreria outras mudanças a medida do processo de aprofundamento da revolução industrial, formatado para a produção! Logo, a loucura não poderia ser apenas um retardo de compreensão da realidade, ou mesmo a construção de uma realidade especifica. O que é normal ou loucura hoje? Pois é, esse processo ainda está sendo repensado ainda hoje, Lacan é um dos meus preferidos. Mas o que cabe aqui é esse processo de construção do conceito de loucura combinado de forma desigual com o processo de aperfeiçoamento das forças produtiva e seus reflexos imediatos nas relações sociais existentes.

Pois bem, esse é o conceito da mentalidade ocidental-produtivista, um modelo de construções de loucuras a partir do processo de desenvolvimento econômico provocado pela interação entre processos ideológicos definidos, com o saldo de qualidade nos modelos econômicos e produtivos, mas acima de tudo no próprio controle do sistema na modelagem de pensar e de como é conduzido o pensamento a partir da necessidade de dominação.

Esse modelo de construção de loucuras aprendido com a revolução industrial e utilizado como ferramenta política e ideológica, foi largamente utilizado no processo de construção da idéia do fim do Socialismo Real. A internet, com sua comunicação instantânea, o celular, as comunicações via satélite, a transmissão da guerra do Golfo foi um desses elementos de construções de loucuras, tudo bem, ainda estou trabalhando na pesquisa, os dados que comprovam esse processo são mais complexos do que se imagina, mas a descoberta do modelo de construção de loucura, transformando isso em elemento combate ao Marxismo é fato.

O Capitalismo cortou de sua carne para enterrar definitivamente a idéia da socialização dos meios de produção, a internet fora guardada a sete chaves durante quase três décadas, pois o processo de transferências de dados e informações a partir de sistemas logarítmicos representava a perda do controle direto do principal veiculo de controle do sistema: a informação!

Também prejudicava algumas modelos industriais, mas o ganho de ver velado definitivamente a idéia de socialização dos meios de produção valiam o risco, primeiro porque o processo se daria em uma velocidade sem igual, segundo a transformação da base produtiva estava alçado na ampliação do crédito, o que daria sustentação financeira a derrocada do Socialismo real e por fim, permitiria transformar o sonho de uma sociedade sem desigualdade em um flagelo, uma loucura, uma blasfêmia, logo com a exclusividade ideológica do desenvolvimento humano o preço a pagar seria barato por demasia. 

A cada uma dessas premissas são necessários esclarecimentos, mas não caberão nesse pequeno artigo, mas como todos esses elementos estão a pleno pulmões sendo utilizados, deixo a reflexão, mas dedicarei algumas linhas ao processo de financiamento da mudança produtiva envolvendo o fim do Socialismo Real, a expansão do crédito. Não é de hoje que ouvimos a palavra crise econômica mundial, do mesmo modo ouvi-se que a expansão chinesa mantém a economia global, mas em ambos os casos o que se tem é uma única utilização do processo produtivo que se mantém quase estável nas últimas três décadas, apesar do crescimento populacional, dados do BIRD (2010), o que mudou foi o incremento da produção com a diminuição de seus custos, particularmente com a perda de direitos dos trabalhadores e com o próprio avanço tecnológico, contradição?

Se por um lado se mantém os níveis de produção, por outro se tem um aumento no consumo? Exatamente esse processo se dá por um simples calculo, os recursos utilizados para construção das bases capitalistas nos antigos estados do bloco soviético precisavam dar um saldo, logo, o restante do sistema dividiria o espólio deixando para os países em desenvolvimento o papel de manter o crescimento econômico mundial, a expansão do crédito, particularmente a que culminaria com a crise bancária americana, era definitivamente o ponto de convergência e o restante do preço a ser pago pela derrota do Socialismo Real.

O aumento do consumo tem mais haver com a ampliação do crédito do que necessariamente com a redução do valor de produção dos bens produzidos, mas essa equação permite o acumulo de capital para investimentos nos antigos países do Socialismo Real, capitaneado pelo Mercado Comum Europeu, o problema é que a medida que as conquistas era retiradas dos trabalhadores no antigo continente, o processo se retroalimentava, culminando com disputas acirradas entre o novo capital europeu, os interesses americanos e os países em desenvolvimento.

Em resumo, o processo de que levou a degradação econômica da ex-URSS e de seu bloco, obrigou a um reordenamento das relações produtivas mundiais, e o processo de financiamento dessa nova ordem deveria caber aos países ricos, que hoje estão em crise por não suportar em suas contas nacionais os valores cobrados para esse nivelamento mundial, o que se fez, ampliou-se o crédito para circular mais papel moeda, sem o aumento significativo dos valores agregados dos produtos e serviços produzidos no período, até o ponto de desequilíbrio monetário, o que resultou nas crises que acompanhamos nós últimos vinte anos.

O que cabe esclarecer que esses desequilíbrio tende a ser reduzido a medida que a China amplia sua participação na economia mundial, abrindo assim seu próprio mercado para manutenção do processo vegetativo de crescimento econômico do globo, dando um fôlego maior para se gerenciar a crise. 

No próximo artigo comentaremos os outros dois elementos que foram utilizados para a construção da ideia do fim do Socialismo Real e da ideologia comunista.

0 comentários: