Dificilmente se constituiria um PT no final da década de 70, em plenos
pulmões da ditadura, com a habilidade para se transformar de vanguarda das
lutas de libertação, para agende de cooperação com setores da burguesia, digo
isso sem precisar ir além, mas o que de fato isso significa, para uns é a
“traição” dos conceitos ditos ortodoxos, para outro é caminho natural do
amadurecimento, mas ambos os conceitos pecam por compreender o sentido
progressivo que o PT teve e tem na história do país nos últimos 30 anos.
Certamente a
compreensão que a luta política do PT verteu-se para um linha política
diferente dos anos 80 é fato, mas isso não significa que esse redirecionamento
foi provocado pela compreensão que essa mudança seria uma etapa necessária para
cunhar espaço no poder político do país, é muito simples aceitar esse fato e
ainda utilizar argumentos exemplificados, por exemplo, na trajetória do PMDB,
que teve um início progressivo, inclusive servindo de abrigo para vários
segmentos de esquerda.
Contudo o processo
é bem mais em baixo, o PT nasce com a ruptura dos conceitos do dogma
stalinista, não posso utilizar marxista, pois esses conceitos só foram
alcunhados a Marx, pós a subida de Stalin no PCCUS, e a imprensa e toda sorte
de canalha e malfeitores a utilizariam para deturpar o Marxismo e toda sua
forte de ação e pensamento, os expurgos e os assassinatos da geração de 1917
são a prova cabal disso.
Esse processo
determinou que a guerra fria fosse um acordo, uma espécie de lado bom e lado
mal, esse joguinho entre as potências tinha só um objetivo fortalecer o
ocidente em detrimento da superioridade das forças produtivas coletivizadas
soviéticas, estamos bem afastadas temporalmente para saber que o processo de
burocratização nos antigos países do bloco soviético foram carcomidos por
dentro, mas isso é assunto para outro debate.
Logo desde o seu
surgimento o PT não se caracterizava mais como partido da revolução, por se
pretendia ser um partido de massas e não de quadros, e sua busca não era a
insurreição, mas a disputa pela hegemonia, e mais uma característica importante
tinha uma ligação direta com os movimentos sociais, o que certamente Lênin
desaprovaria, pois para ele os dirigentes deveriam ser de fora.
Essas três características da fundação do
PT já estariam por resolver sua trajetória política nos anos subseqüentes, não
poderia haver traição de que, de quem e como? Se suas opções desde seu
surgimento já eram tão claras. O modelo do socialismo petista é diferente, na
sua origem, na sua construção, mas principalmente na sua condução para dentro e
fora do PT, é uma experiência que está sendo construída, às vezes brinco
dizendo que estamos trocando os pneus do carro em uma descida e sem freio.
Com relação ao debate de seu amadurecimento
político não justifica, não é uma construção linear a do PT, sua dialética
interna prova isso, os diferentes debates que passamos mostrou certo grau de
maturidade, como por exemplo, o debate sobre política de alianças no 5º
Encontro Nacional, ou mesmo, o direito de tendências, mas enfim, o
amadurecimento não foi definitivamente o processo pelo qual abandonamos a
construção partidária, afastando-se dos movimentos sociais, incorporando-se a
suas vidas e processos, isso jamais foi um caminho natural, mas evolução do
combate político que o PT travou na sociedade e, suas conseqüências estão sendo
sentidas hoje.
A medida que o PT se dispõem a disputar a
hegemonia na sociedade as diferentes disputas políticas corroeram a integridade
política do partido, não com valores morais e éticos, esses não são o tema do
debate, e pouco acredito que a AP 470 possa incriminar algo além do que já foi dito, mas no contextos das
disputas com a sociedade, os setores que perderam espaços se viram forçados a
ceder seus antigos espaços e para sobreviver tiveram que se adaptar a nova
realidade.
Logo, o partido começou a compreender que
esse caminho não teria volta, com sucessivas vitórias em seguidas eleições, o
PT começa a trilhar uma nova trajetória, motivada pela sua estratégia de
disputa hegemônica, logo esses dois fatores se combinariam e daria sustentação
a linha política que o PT assume hoje.
Em suma, a adaptação de setores que
perderam os espaços políticos originais para o PT e a conquista de novos
espaços institucionais foram as ações desiguais e combinadas que serviram de
base para que o PT pudesse sair vitorioso desde 2002 nas eleições
presidenciais.
Outro elemento depois serviram de
sustentação a essa compreensão política, pois era necessário construir uma base
social para substituir a anterior, da origem do partido, e a utilizam do estado
foi determinante para isso, com a criação do Bolsa-família, o PT criou uma base
econômica, pois ampliou o poder de compra de uma parcela excluída do processo
produtivo do país, essa camada, por mais baixo que possa ser seu poder de
compra, teve seus créditos ampliados, no jargão dos economistas criou-se uma
bolha de crédito, que seria suportada à medida que o país começasse seu
processo de desenvolvimento tardio do capitalismo.
As eleições desse ano têm um duplo sentido
para compreender o PT e seus desdobramentos, o primeiro será os resultados
obtido pelo próprio PT nas maiores cidades do Brasil, pois nos menores município
já podemos prever, o outro é a disputa interna para quem vai ser o cabeça de
chapa em 2014, pela análise da disputa hegemônica dois fatores determinarão
essa escolha, o primeiro é o resultado da AP 470 e a outra e a manutenção das
bases econômicas de nova modalidade de consumidores, promovidos pelo bolsa
família.
O que temos que compreender é que o
processo é disputa hegemônica passa por dentro e por fora do PT, o partido se
entrelaçou em diferentes ramificações sociais, em todas as esferas de poder e é
bem distribuídas pela pirâmide social, o único elemento em disputa é o método
de escolhas das diretrizes que o partido vai tomar, se continua seu
assembleísmo ou define-se pela estrutura de direção.
Em todo caso as eleições de 2012 são um
marco para definir os próximos anos, se o projeto construído de poder de 20
anos vai se tornar possível, ou vamos ter uma pequena mudança de rumo, mas que
acabará por definir os rumos do próprio partido me relação a sua concepção de
socialismo, é um debate que vamos travar e espero que ele possa ser participativo
e dinâmico. Boa sorte PT.
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