sábado, 25 de agosto de 2012

O DESLOCAMENTO DA DISPUTA HEGEMONICA E AS ELEIÇÕES.



Dificilmente se constituiria um PT no final da década de 70, em plenos pulmões da ditadura, com a habilidade para se transformar de vanguarda das lutas de libertação, para agende de cooperação com setores da burguesia, digo isso sem precisar ir além, mas o que de fato isso significa, para uns é a “traição” dos conceitos ditos ortodoxos, para outro é caminho natural do amadurecimento, mas ambos os conceitos pecam por compreender o sentido progressivo que o PT teve e tem na história do país nos últimos 30 anos.
                Certamente a compreensão que a luta política do PT verteu-se para um linha política diferente dos anos 80 é fato, mas isso não significa que esse redirecionamento foi provocado pela compreensão que essa mudança seria uma etapa necessária para cunhar espaço no poder político do país, é muito simples aceitar esse fato e ainda utilizar argumentos exemplificados, por exemplo, na trajetória do PMDB, que teve um início progressivo, inclusive servindo de abrigo para vários segmentos de esquerda.
                Contudo o processo é bem mais em baixo, o PT nasce com a ruptura dos conceitos do dogma stalinista, não posso utilizar marxista, pois esses conceitos só foram alcunhados a Marx, pós a subida de Stalin no PCCUS, e a imprensa e toda sorte de canalha e malfeitores a utilizariam para deturpar o Marxismo e toda sua forte de ação e pensamento, os expurgos e os assassinatos da geração de 1917 são a prova cabal disso.
                Esse processo determinou que a guerra fria fosse um acordo, uma espécie de lado bom e lado mal, esse joguinho entre as potências tinha só um objetivo fortalecer o ocidente em detrimento da superioridade das forças produtivas coletivizadas soviéticas, estamos bem afastadas temporalmente para saber que o processo de burocratização nos antigos países do bloco soviético foram carcomidos por dentro, mas isso é assunto para outro debate.
                Logo desde o seu surgimento o PT não se caracterizava mais como partido da revolução, por se pretendia ser um partido de massas e não de quadros, e sua busca não era a insurreição, mas a disputa pela hegemonia, e mais uma característica importante tinha uma ligação direta com os movimentos sociais, o que certamente Lênin desaprovaria, pois para ele os dirigentes deveriam ser de fora.
Essas três características da fundação do PT já estariam por resolver sua trajetória política nos anos subseqüentes, não poderia haver traição de que, de quem e como? Se suas opções desde seu surgimento já eram tão claras. O modelo do socialismo petista é diferente, na sua origem, na sua construção, mas principalmente na sua condução para dentro e fora do PT, é uma experiência que está sendo construída, às vezes brinco dizendo que estamos trocando os pneus do carro em uma descida e sem freio.
Com relação ao debate de seu amadurecimento político não justifica, não é uma construção linear a do PT, sua dialética interna prova isso, os diferentes debates que passamos mostrou certo grau de maturidade, como por exemplo, o debate sobre política de alianças no 5º Encontro Nacional, ou mesmo, o direito de tendências, mas enfim, o amadurecimento não foi definitivamente o processo pelo qual abandonamos a construção partidária, afastando-se dos movimentos sociais, incorporando-se a suas vidas e processos, isso jamais foi um caminho natural, mas evolução do combate político que o PT travou na sociedade e, suas conseqüências estão sendo sentidas hoje.
A medida que o PT se dispõem a disputar a hegemonia na sociedade as diferentes disputas políticas corroeram a integridade política do partido, não com valores morais e éticos, esses não são o tema do debate, e pouco acredito que a AP 470 possa incriminar algo além do  que já foi dito, mas no contextos das disputas com a sociedade, os setores que perderam espaços se viram forçados a ceder seus antigos espaços e para sobreviver tiveram que se adaptar a nova realidade.
Logo, o partido começou a compreender que esse caminho não teria volta, com sucessivas vitórias em seguidas eleições, o PT começa a trilhar uma nova trajetória, motivada pela sua estratégia de disputa hegemônica, logo esses dois fatores se combinariam e daria sustentação a linha política que o PT assume hoje.
Em suma, a adaptação de setores que perderam os espaços políticos originais para o PT e a conquista de novos espaços institucionais foram as ações desiguais e combinadas que serviram de base para que o PT pudesse sair vitorioso desde 2002 nas eleições presidenciais.
Outro elemento depois serviram de sustentação a essa compreensão política, pois era necessário construir uma base social para substituir a anterior, da origem do partido, e a utilizam do estado foi determinante para isso, com a criação do Bolsa-família, o PT criou uma base econômica, pois ampliou o poder de compra de uma parcela excluída do processo produtivo do país, essa camada, por mais baixo que possa ser seu poder de compra, teve seus créditos ampliados, no jargão dos economistas criou-se uma bolha de crédito, que seria suportada à medida que o país começasse seu processo de desenvolvimento tardio do capitalismo.
As eleições desse ano têm um duplo sentido para compreender o PT e seus desdobramentos, o primeiro será os resultados obtido pelo próprio PT nas maiores cidades do Brasil, pois nos menores município já podemos prever, o outro é a disputa interna para quem vai ser o cabeça de chapa em 2014, pela análise da disputa hegemônica dois fatores determinarão essa escolha, o primeiro é o resultado da AP 470 e a outra e a manutenção das bases econômicas de nova modalidade de consumidores, promovidos pelo bolsa família.
O que temos que compreender é que o processo é disputa hegemônica passa por dentro e por fora do PT, o partido se entrelaçou em diferentes ramificações sociais, em todas as esferas de poder e é bem distribuídas pela pirâmide social, o único elemento em disputa é o método de escolhas das diretrizes que o partido vai tomar, se continua seu assembleísmo ou define-se pela estrutura de direção.
Em todo caso as eleições de 2012 são um marco para definir os próximos anos, se o projeto construído de poder de 20 anos vai se tornar possível, ou vamos ter uma pequena mudança de rumo, mas que acabará por definir os rumos do próprio partido me relação a sua concepção de socialismo, é um debate que vamos travar e espero que ele possa ser participativo e dinâmico. Boa sorte PT.



0 comentários: