o PT pode ser forçado a ir além do que deseja em 2018? |
A
atual crise política que o país atravessa é reflexo de uma crise antiga. Com consequências
ainda maiores que os nossos pobres teóricos não compreendem mais, remontam
ainda da segunda metade do início do século passado, logo depois da morte de
Lenin e que ainda hoje não foi respondida satisfatoriamente por nenhuma geração
até os dias de hoje.
Não é papel desse pequeno artigo se lançar
para discutir a conjuntura atual em sua mais complexa forma, mas tão somente
discutir um aspecto dela que ainda é determinante para que ela prossiga
vitoriosa sobre as conquistas históricas dos explorados.
Certamente a crise de direção revolucionária
provocou durante anos recuos ou derrotas do explorados em suas lutas nas mais
distantes regiões do mundo. Não vamos nós ater aos aspectos genealógicos de sua
origem nem tampouco de seu conceito, pois quando Trotsky afirma que a maior
crise de seu tempo é a crise de direção revolucionária ele já explicava todas
as variantes e determinava assim as saídas para essa crise.
Tampouco vou cobrar a leitura do Programa de
Transição de quem quer que seja, hoje eu acredito que mesmo o Manifesto
Comunista seja o livro de cabeceira de pouco iluminados, pois o conhecimento revolucionário
virou artigo de luxo de poucos que andam dispersos e sem caminhos para se
dedicar, produto direto da crise de direção revolucionária.
Para Trotsky (1936):
Os
falatórios de toda espécie, segundo os quais as condições históricas não
estariam "maduras" para o socialismo, são apenas produto da
ignorância ou de um engano consciente. As premissas objetivas da revolução
proletária não estão somente maduras: elas começam a apodrecer. Sem vitória da
revolução socialista no próximo período histórico, toda a civilização humana
está ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe. Tudo depende do proletariado,
ou seja, antes de mais nada, de sua vanguarda revolucionária. A crise histórica
da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária.
Essa dinâmica de conceber a crise da
humanidade como processo de “ignorância” ou de “engano consciente” fala por si,
pois para o Comandante do Exercito Vermelho, havia de fato uma política
consciente de sabotagem da URSS, de seu partido, a 3ª Internacional, mas acima
de tudo uma conspiração contra os interesses históricos dos explorados.
Desde a tomada do poder pelos Bolcheviques em
1917, houve de fato uma acirrada disputa pelos rumos da revolução, de um lado
os marxistas internacionalistas que queria promover a revolução a um processos mundial,
pois ele acreditavam que enquanto existisse uma “ilha” de Capitalismo o Socialismo
seria ameaçado, de outro lado os nacionalista desenvolvimentistas, que
acreditavam que a consolidação do Socialismo na URSS seria a alavanca do
desencadeamento da revolução em outros países, tanto um lado como o outro
tinham em suas elaborações que determinariam os rumos da história nos próximos
100 anos.
Hoje sabemos que ganhou essa disputa e quais
os desastrosos resultados para a luta dos explorados sofremos hoje, em todo
caso, é necessário estabelecer um critério que foi determinante para que esse
luta política se desenvolvesse e chegassem aos resultados que tiveram, enquanto
os marxistas acreditavam que a construção do partido internacional seria a mola
mestre de todas as revoluções futuras, com a consolidação do pensamento de
Lenin de profissionais da revolução em todos os cantos do mundo, com um partido
centralizado e orgânico, com relação intrínsecas com os movimentos sociais, a
própria Rússia se utilizou desse poder dual a partir da construção dos Soviets,
e da conquista das consciências das massas explorados a partir de um programa
mínimo.
Enquanto os nacionalistas soviéticos,
liderados por Stalin, compreendia que apesar da necessidade do partido, ele
deveria ser nacional e não apenas um e único partido sem fronteiras, mas um conglomerado
de partidos nacionais, por exemplo, no Brasil o PCB (Seção Brasileira) e que
teria sob sua responsabilidade de encontrar por si as soluções para a tomada de
poder e das ações dos revolucionários, do mesmo modo, eles acreditavam que o
papel da URSS era de consolidar um bloco hegemônico que pudesse servir de farol
para o restante do mundo, mas que o fortalecimento econômico e militar
soviético seriam as suas diretrizes principais, pode-se notar isso a partir de
1935 em seu plano quinquenal, onde a URSS se preparava para o enfrentamento
militar com o Ocidente.
Em ambos os casos, as teorias foram colocadas
a prova, e a própria realidade acabou por combinar as duas teorias gerando uma
grande confusão nos corações e mente de gerações de revolucionários pelo mundo,
essa questão eu aprofundo em dois outros artigos que estão disponibilizados no
Dilacerado, a Revolução no Divã e a Esquizofrenia do Ser Revolucionário, mas
cabe aqui destacar que o processo se consolida na vitória da concepção desenvolvimentista
nacional.
Para Trotsky:
A tarefa
estratégica do próximo periodo - período pré-revolucionário de agitação,
propaganda e organização - consiste em superar a contradição entre a maturidade
das condições objetivas da revolução e a imaturidade do proletariado e de sua
vanguarda (confusão e desencorajamento da velha geração, falta de experiência
da nova). É necessário ajudar as massas, no processo de suas lutas cotidianas a
encontrar a ponte entre suas reivindicações atuais e o programa da revolução
socialista. Esta ponte deve consistir em um sistema de REIVINDICAÇÕES
TRANSITÓRIAS que parta das atuais condições e consciência de largas camadas da
classe operária e conduza, invariavelmente, a uma só e mesma conclusão: a
conquista do poder pelo proletariado.
Essa narrativa proposta por Trotsky levaria
em consideração que as premissas da revolução internacional seria obra de um
partido internacional, de um partido de profissionais da revolução e de uma
direção revolucionária, mas esse partido se encerrou com o final do 4º Congresso
da III Internacional, até hoje a IV Internacional não passou de um arremedo sem
graça das lutas sociais que precisavam de uma direção firme e forte para a
construção do Socialismo.
Isso é bem representativo quando voltamos aos
olhos para a América Latina, um dos exemplos é a Revolução Cubana liderada por
Fidel e Che, eles não tinham em sua origem a compreensão de evoluir sua
revolução nacional para a construção do Socialismo, mas a pressão externa e a
luta política interna obrigaram eles a caminharem para o braços da URSS, que
mesmo não apostando um único centavo se aproveitou da proximidade de Cuba para
construção de seu poderio na Latino América, e com isso inaugurou a fase mais
aguda da conhecida Guerra Fria.
No Brasil depois de 13 anos de governos
petistas, ano passado sofremos um golpe parlamentar, dentro das regras
institucionais que tantos os petistas idolatram, apesar dos motivos da cassação
de Dilma serem abertamente forjados e corroídos desde seu nascedouro.
O fato é que não houve resistência social nas
ruas e nem mesmo no parlamento, o PT e os movimentos sociais estavam acuados,
sobre fortes suspeitas e acusações de corrupção e desvios de verbas públicas,
por partes de seus antigos aliados, os atuais golpistas do PMDB. Se é verdade
que a burguesia ou setores delas estavam descontentes com a gestão do PT,
também é verdade que os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro como ganharam
dos petistas, essa métrica matemática aos olhos dos estrategistas do PT eram
suficientes para se manter no controle do país.
Ledo engano, as mesadas aos deputados, as
liberações de emendas parlamentares, ou mesmo parte de propina em obras
públicas não foram suficientes para apaziguar o ódio e o preconceito contra os
interesses dos explorados e com isso caiu o governo de Dilma, e hoje todas as
pequenas conquistas dos 13 anos anteriores começaram a cair uma por uma, e
ainda vão conquistar mais e mais territórios sobre os interesses dos explorados
e até agora a reação foi muito inferior, mesmo a greve geral, não conseguiu
impedir na semana seguinte a votação da reforma da previdência social nas
subcâmeras do Congresso.
O PT teve a direção política do país em vez
de organizar o povo nas ruas para sua defesa preferiu entrar no tabuleiro do
toma lá da cá, e o resultado foi o golpe, agora espera com angustia que 2017
chegue ao fim e que Lula venha candidato em 2018, e novamente não organiza o
povo para resistir e lutar, essa é a crise de direção que vivemos hoje no país
e que Trotsky tanto nos alertou.
É possível a
criação de tal governo pelas organizações operárias tradicionais. A experiência
anterior mostra-nos, como já vimos, que isto é, pelo menos, pouco provável. É,
entretanto, impossível negar categórica e antecipadamente a possibilidade
teórica de que, sob a influência de uma combinação de circunstâncias
excepcionais (guerra, derrota, quebra financeira, ofensiva revolucionária das
massas etc.), os partidos pequeno-burgueses, incluídos aí os stalinistas,
possam Ir mais longe do que queriam no caminho da ruptura com a burguesia. Em
todo caso, uma coisa está fora de dúvida: se mesmo esta variante pouco provável
se realizasse um dia em algum lugar, e um "Governo operário e
camponês", no sentido acima indicado, se estabelecesse de fato, ele
somente representaria um curto episódio em direção à ditadura do proletariado.
(TROTSKY, 1936)
Mas o PT se subverteu a uma lógica estranha
aos interesses históricos dos trabalhadores e das trabalhadoras, mas sua
influência de massa ainda o identifica como sendo um partido de explorados,
muito embora o lulismo como força política tenha assumido o seu papel populista
nos últimos anos, o fato é que o PT ainda é a maior direção operaria e
camponesa do país. E sob sua responsabilidade está a resistência ao golpe e a
preparação das condições subjetivas para a luta política que se avizinha com a
possível eleição de Lula.
Temos convicção que o PT não organizara o
povo para o enfrentamento nas ruas de seu governo, deve cair desgraçadamente e novamente
na cretinice parlamentar, ao invés de investir todo o seu tempo em recursos nos
movimentos sociais para que estes criem espaços de poder dual, como os sovietes,
e assim dar suporte ao futuro governo do PT e quem sabe assim, mesmo que em um
curto período de tempo possa caminhar junto com o interesse dos explorados.
Referencia
TROTSKY, Leon. Programa de Transição. 1936
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