A
construção do Socialismo sempre foi e, ainda é, um longo processo de uma
maturidade política de diferentes fatores. Deve-se compreender que a discussão
sobre como chegaremos a ela, via reforma ou revolução sempre foi um debate
acirrado, mas depois do final da década de 80 do século passado e dos primeiros
anos do desmantelamento do bloco soviético, essa discussão parece que caiu por
terra, não se fala mais em ruptura revolucionária!
A
reforma do sistema capitalista se sobressaiu, o processo de construção de
reformas nas estruturas políticas, sociais e econômicas do Capitalismo virou
discurso único, salve exceção de pequenos grupelhos isolados em distantes
rincões do mundo, mesmo os coletivos que mantém certo prestígio entre os
trabalhadores, preferiram ficar só na propaganda e na agitação.
A
distância temporal existente entre hoje e a queda do Muro de Berlim, ainda não
parece ser suficiente para exames mais detalhados do que ocorreu, o que torna
nosso trabalho ainda mais interessante e desafiador, se por um lado temos ainda
em nossa memória os fatos que antecederam o colapso do Socialismo Real, por
outro lado, temos as análises que as principais correntes “ditas” marxistas
tiveram no período.
Em
ambos os casos o que se percebe é que em todas as construções teóricas faltam
ainda argumentos definitivos que permitam homogeneizar essa leitura, certamente
que esse processo deve partir de concepções e perspectivas diferentes, mas delimitarem-se
dentro do marxismo nos permite construir apenas uma breve e lógica conclusão: A derrota do Socialismo Real foi à derrota
de um modelo de desenvolvimento nacional, competindo com o processo global de
formação de mercados inter-regionais e na mundialização dos serviços,
culminando com a substituição do modelo de gestão planificada pela concorrência
de mercado, pelo fim do pleno emprego e pela contratação de mão de obra,
gerando mais valia, enfim, pelo retorno do capitalismo e de todas as suas
mazelas, fato!
Essa
contradição entre o que ocorreu e o que ocorre hoje tem apenas um motivo de existência,
é demonstrar de forma empírica a supremacia do capitalismo sobre o Socialismo,
e desmistificar o processo de construção histórica e dialética do Marxismo.
Falar e descrever essa dicotomia são absolutamente fáceis, mas não é o motivo
de nossa dedicação, deixamos isso para os propagandistas de ambos os lados,
nossa tarefa aqui é compreender como esse processo ocorreu, por que ocorreu e
quais suas consequências imediatas.
Não
elaborando somente um artigo, mas descrevendo em suas sínteses através do
marxismo as suas diferentes etapas e constituições, mas acima de tudo apontar
caminhos que permitam nessa difícil conjuntura o papel dos revolucionários, sim
ainda existem e logo terão como se constituir, pois o processo de maturidade
das forças objetivas e subjetivas estará mais que maduras para um novo ciclo de
contestação das limitações das reformas para a necessidade de construção humana
digna.
Contudo
é necessário passar por um processo de readequação das nossas teorias e de
nossas possibilidades, temos que aprender a pensar novamente, pois sofremos
duras derrotas nos últimos 20 anos, e ainda não nos restabelecemos de forma
definitiva. Precisamos assimilar os resultados da inconsequência do processo de
burocratização das políticas operárias no estado soviético.
Precisamos
reaprender a se constituir como agentes políticos na atual etapa histórica,
participar dos fóruns em que se discutam os temas atuais, não apenas participar
com a equação já respondida, mas elaborando de forma decisiva nas formulações
que permitam constituir novos modelos de desenvolvimento, aproveitando assim
nossas críticas a partir do método marxista.
Do
mesmo modo é necessário estabelecer um fio condutor entre a teoria marxista e os
movimentos de contestação existentes hoje no planeta, armá-los com a força de
nossos argumentos, mas acima de tudo, apreender a compartilhar decisões e
direções, pois é na base dos movimentos sociais em que se treina a complexidade
da democracia operária, e somente lá que poderemos deter os interesses
estranhos a evolução da sociedade humana, é o nosso principal laboratório,
desenvolvendo relações humanas inovativas e solidárias.
Precisamos
aprender a ensinar novamente, a construir relações formais e informações,
distinguir aliados e adversários dos inimigos e sugerir desafios e sonhos, mas
isso tem que primeiro acontecer no “eu” revolucionário, temos que enfrentar
nossos temores, mas acima de tudo perceber que precisamos de terapia para
compreender nossas ações frente ao mundo e de compreender o mundo a partir de
nós mesmos.
Tivemos
perdas e fomos banidos do mundo, taxadas e classificados como escória, vimos
nossos sonhos serem transformados em pó, cassados e humilhados fomos renegados
a marginalidade da teoria social, mas sobrevivemos, teimosos e complexos ainda
insistimos em existir, pois isso está além da condição humana, somos produtos
de um sociedade sem escrúpulos, não vitimados, mas conspiradores de uma nova
etapa de desenvolvimento humano.
Compartilhar essa experiência de sobrevivência e aprender a conviver com
isso a cada momento de nossa existência é o nosso desafio primeiro, depois têm
outros, mas no momento ter a compreensão e aceitar esse processo será a
primeira etapa, sua negação além de natural fará parte desse processo, depois
passaremos pela assimilação e depois finalmente sua superação, mas essas etapas
só terão significado se forem realizadas com as análises dos acontecimentos
históricos passados e posicionamento frente aos fatos de hoje e de amanhã, de
organização e atitude, mas acima de tudo de solidariedade com a luta dos
explorados, eis nossos desafios, vamos à terapia!
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