domingo, 13 de janeiro de 2013

A Revolução no Divã – Parte I




A construção do Socialismo sempre foi e, ainda é, um longo processo de uma maturidade política de diferentes fatores. Deve-se compreender que a discussão sobre como chegaremos a ela, via reforma ou revolução sempre foi um debate acirrado, mas depois do final da década de 80 do século passado e dos primeiros anos do desmantelamento do bloco soviético, essa discussão parece que caiu por terra, não se fala mais em ruptura revolucionária!

A reforma do sistema capitalista se sobressaiu, o processo de construção de reformas nas estruturas políticas, sociais e econômicas do Capitalismo virou discurso único, salve exceção de pequenos grupelhos isolados em distantes rincões do mundo, mesmo os coletivos que mantém certo prestígio entre os trabalhadores, preferiram ficar só na propaganda e na agitação.

A distância temporal existente entre hoje e a queda do Muro de Berlim, ainda não parece ser suficiente para exames mais detalhados do que ocorreu, o que torna nosso trabalho ainda mais interessante e desafiador, se por um lado temos ainda em nossa memória os fatos que antecederam o colapso do Socialismo Real, por outro lado, temos as análises que as principais correntes “ditas” marxistas tiveram no período.

Em ambos os casos o que se percebe é que em todas as construções teóricas faltam ainda argumentos definitivos que permitam homogeneizar essa leitura, certamente que esse processo deve partir de concepções e perspectivas diferentes, mas delimitarem-se dentro do marxismo nos permite construir apenas uma breve e lógica conclusão: A derrota do Socialismo Real foi à derrota de um modelo de desenvolvimento nacional, competindo com o processo global de formação de mercados inter-regionais e na mundialização dos serviços, culminando com a substituição do modelo de gestão planificada pela concorrência de mercado, pelo fim do pleno emprego e pela contratação de mão de obra, gerando mais valia, enfim, pelo retorno do capitalismo e de todas as suas mazelas, fato!

Essa contradição entre o que ocorreu e o que ocorre hoje tem apenas um motivo de existência, é demonstrar de forma empírica a supremacia do capitalismo sobre o Socialismo, e desmistificar o processo de construção histórica e dialética do Marxismo. Falar e descrever essa dicotomia são absolutamente fáceis, mas não é o motivo de nossa dedicação, deixamos isso para os propagandistas de ambos os lados, nossa tarefa aqui é compreender como esse processo ocorreu, por que ocorreu e quais suas consequências imediatas.

Não elaborando somente um artigo, mas descrevendo em suas sínteses através do marxismo as suas diferentes etapas e constituições, mas acima de tudo apontar caminhos que permitam nessa difícil conjuntura o papel dos revolucionários, sim ainda existem e logo terão como se constituir, pois o processo de maturidade das forças objetivas e subjetivas estará mais que maduras para um novo ciclo de contestação das limitações das reformas para a necessidade de construção humana digna.

Contudo é necessário passar por um processo de readequação das nossas teorias e de nossas possibilidades, temos que aprender a pensar novamente, pois sofremos duras derrotas nos últimos 20 anos, e ainda não nos restabelecemos de forma definitiva. Precisamos assimilar os resultados da inconsequência do processo de burocratização das políticas operárias no estado soviético.

Precisamos reaprender a se constituir como agentes políticos na atual etapa histórica, participar dos fóruns em que se discutam os temas atuais, não apenas participar com a equação já respondida, mas elaborando de forma decisiva nas formulações que permitam constituir novos modelos de desenvolvimento, aproveitando assim nossas críticas a partir do método marxista.

Do mesmo modo é necessário estabelecer um fio condutor entre a teoria marxista e os movimentos de contestação existentes hoje no planeta, armá-los com a força de nossos argumentos, mas acima de tudo, apreender a compartilhar decisões e direções, pois é na base dos movimentos sociais em que se treina a complexidade da democracia operária, e somente lá que poderemos deter os interesses estranhos a evolução da sociedade humana, é o nosso principal laboratório, desenvolvendo relações humanas inovativas e solidárias.

Precisamos aprender a ensinar novamente, a construir relações formais e informações, distinguir aliados e adversários dos inimigos e sugerir desafios e sonhos, mas isso tem que primeiro acontecer no “eu” revolucionário, temos que enfrentar nossos temores, mas acima de tudo perceber que precisamos de terapia para compreender nossas ações frente ao mundo e de compreender o mundo a partir de nós mesmos.

Tivemos perdas e fomos banidos do mundo, taxadas e classificados como escória, vimos nossos sonhos serem transformados em pó, cassados e humilhados fomos renegados a marginalidade da teoria social, mas sobrevivemos, teimosos e complexos ainda insistimos em existir, pois isso está além da condição humana, somos produtos de um sociedade sem escrúpulos, não vitimados, mas conspiradores de uma nova etapa de desenvolvimento humano.


Compartilhar essa experiência de sobrevivência e aprender a conviver com isso a cada momento de nossa existência é o nosso desafio primeiro, depois têm outros, mas no momento ter a compreensão e aceitar esse processo será a primeira etapa, sua negação além de natural fará parte desse processo, depois passaremos pela assimilação e depois finalmente sua superação, mas essas etapas só terão significado se forem realizadas com as análises dos acontecimentos históricos passados e posicionamento frente aos fatos de hoje e de amanhã, de organização e atitude, mas acima de tudo de solidariedade com a luta dos explorados, eis nossos desafios, vamos à terapia!

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