Sábado a
noite, após uma tarde de preparação começa o III Facada Fest sobre ameaça de
ataque de grupos de extermínios, o ex-Delegado e atual Deputado Federal Eder
Mauro em tom provocador disse abertamente que os milicianos colocaram na sua
agenda o festival, não bastasse isso, o filho do fascista mor divulgou que o
evento é um afronte para os fascistas de plantão!
A quase três
semanas o Festival sofre ataques diretos dos fascistas, nas redes sociais, nos
comentários e agora na realização do evento, como o evento acabou de começar,
estamos atento a todos os movimentos, OAB, Defensoria Pública, Sindicatos,
movimentos sociais se solidarizaram com a realização do evento, diversas bandas
e uma multidão estão agora reunidos e criticando o fascismo!
Contudo, o
evento acontece sem maiores problemas, a mobilização do evento, provocada
também pelas ameaças chamaram atenção para o Rock Roll “feito” no Pará, e
assim, seguimos banda após banda tocam sem problemas, até quase meio noite,
ouvimos sempre alguém gritar que tinha visto o mesmo carro passar diversas
vezes, todos os cuidados foram tomados, e ainda sim, vive-se o medo de algo
possa acontecer a qualquer momento.
A Polícia
Militar e a Polícia Civil observam de longe o evento, mesmo com o consumo de
drogas sendo limitado a alguns poucos corajosos, a polícia não intervém e assim
segue o Facada Fest, a organização do evento antes de chamar a última banda
recomendou que todos os final do evento possa sair com outras pessoas, nunca
sozinho para evitar transtornos.
Só para
relembrar que um dos organizadores do festival avisou nas redes sociais que
todos os parlamentares de esquerda tinham sido avisados do evento e que o
silêncio imperou em suas manifestações, assim, o facada fest segue sendo underground
e a luta em torno dele, ficou restrito aos organizadores e ao seu público.
Logo após a
entrada da última banda, ouve-se os primeiros disparos, barulho de freadas
concorrem com os sons distorcidos da guitarra, tiros confundidos com a bateria
escrachada, muita gente não entendeu o que estava acontecendo, começa um
corre-corre sem coerência, todos se afastam do palco, um carro tinha disparado
em direção ao público, muita confusão, a banda para de tocar, os organizadores
tentam manter o controle através do microfone, a PM e a Polícia Civil continuam
parados observando, percebo de longe um certo sorriso maroto em seus distantes
lábios, a poeira baixa e vimos pessoas atingidas.
Não se pode
determinar a quantidade de tiros, o Rock Roll sempre toca alto, mas se calcula
em mais de 10 tiros em direção a multidão, que indefesa, só fez correr sem
rumo, sem direção, pessoas caídas ao chão, sangue me todas as partes, no meu afã
de ver o que estava acontecendo, não percebi que sangrava também, um tiro atingiu
minhas pernas, mas eu seguia para ver outros corpos baleados e que não tiveram
a mesma sorte, corro para alguém chorando sobre um corpo inerte e sento ao seu
lado, vejo apenas tristeza.
Sobre o espanto
de todos, no seu final, as ameaças dos fascistas foram concretizadas, muita
gente ao chão, agora consigo olhar tudo ao meu redor, mais corpos e pessoas
chorando, o silêncio no microfone do evento comprova que os tiros alcançaram o
palco, foi tudo muito rápido, não deu tempo de reagir, e o carro que parado
atirou, seguiu após descarregar todas as suas armas, e ninguém conseguiu ver
nem a cor, se era preto ou prata, tanto faz agora, estamos sós, feridos e
assustados, mas ainda vivos!
Começam chegar
as ambulâncias e somos levados ao PSM da Capital, mas não tem médicos no
plantão, teremos que esperar a noite, segundo me dizem três mortos, dois homens
e uma mulher, em cantos distintos do festival, eles atacaram de forma
aleatória, por pura maldade e no final disparam contra o palco.
Escrevo essas
linhas esperando ser atendido, ainda acredito que a bala esteja alojada na
minha perna, vou guardar ela e procurar seu dono para devolver, o festival foi
atacado, e a esquerda continua em silêncio e os fascistas mostram mais uma vez
os dentes, a guerra foi declarada e nós não nos preparamos, agora vamos
enterrar nossos mortos e cuidar dos feridos, e vamos ficar na cabeça de como o
Rock Roll é combativo e que nele a justiça social é a única forma de rebeldia, vamos
seguir entoando nossos cantos de guerra e de paz, mas outras festivais virão e
estaremos novamente na luta.
PS. Esse texto
é fictício, mas enquanto não levarmos a sério a ameaça dos fascistas, cenas
como essas sempre serão possíveis!
Marcelo
Bastos
Editor do
Blog Dilacerado
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