O São João com fogueiras
nesse mês de junho foi substituído pelas lutas nas ruas, segue abaixo, o texto
do Camarada Reginaldo, professor, comunista e o qual tive o privilégio de ser
seu companheiro no Grêmio Estudantil Gisele Miranda, do Colégio Lauro Sodré, nos
ritos de 1988. De lá para cá, manteve inalterada sua conduta e sua obsessão
pela luta revolucionária, um exemplo, de homem e de luta, meu mentor, amigo e
camarada, quero agradecer por sua autorização em publicar suas reflexões nesse
blog que insiste em afirmar que a verdadeira Revolução só vira com a construção
do verdadeiro partido revolucionário, e nele estaremos juntos, tenho certeza!
Há mais de
uma década estamos sendo bombardeados pela mídia golpista com notícias que
exaltam o grande crescimento econômico do Brasil, sua inserção no mercado
global e a redução contínua das taxas de pobreza. Em tempos recentes, em clima
de êxtase, foram divulgadas informações de que o Brasil alçou o posto de 6ª maior economia
do mundo, ingressou no clube de países com elevado IDH e estava em vias de
erradicar os últimos bolsões de pobreza com a ampliação do programa bolsa
família.
Essa nova era de progresso seria
coroada com a realização do evento esportivo mais importante do planeta e o
mais amado pelos brasileiros: A copa do mundo. Marcar-se-ia para sempre na
história do país e vender-se-ia ao mundo um modelo de sucesso, ancorado na
eficácia absoluta do receituário neoliberal que caracterizou os governos
nacionais das duas últimas décadas (PSDB e PT), no qual o sacrifício da
austeridade fiscal inicial, marcado pela redução drástica dos investimentos
sociais, seria sempre recompensado com a prosperidade econômica e social para
todos em sua fase seguinte.
Assim como o corpo se esgota com a
droga entorpecente, inutilizando o cérebro até mesmo para continuar processando
suas ilusões, a sociedade se exauriu de sua própria penúria e sente a dor da
opressão quando recorre ao Estado que não mais consegue entorpecê-la com o pão
e o circo. O espetáculo midiático do progresso foi interrompido quando o
acúmulo das mazelas chegou ao limite e aniquilou a esperança de uma grande
massa de brasileiros por dias melhores. Não foi possível ao Estado brasileiro
conciliar os opulentos banquetes ao capital nacional e estrangeiro, com suas
generosas transferências de recursos públicos a título de investimentos em
infraestrutura e pagamentos de dívidas públicas, e continuar domesticando o
povo com migalhas. Os homens não são cães, passíveis de serem subjugados para
sempre apenas com um punhado de comida!
O povo tomou conta das ruas do país
de norte a sul, de Belém a Porto Alegre, na maior manifestação pública dos
últimos 20 anos. A decrepitude dos serviços públicos no Brasil ultrapassou
todos os limites da tolerância. Sua face mais cruel se apresenta na saúde,
educação, transporte e segurança pública cujos efeitos sempre atingiram a
população de baixa renda e agora também a classe média. Somado a esses pontos
de deficiências históricas, coloca-se o desvio bilionário de recursos públicos
para construção de infraestrutura para copa do mundo e olimpíadas, a corrupção
e a impunidade que atingiram índices recordes, despertando o ódio no povo a
proposta de blindá-las com a PEC 33, e o retorno do fantasma da inflação.
Apesar de toda tentativa de
ludibriar o povo brasileiro, não houve como evitar os nefastos efeitos da
corrupção e da transferência legalizada de nossas riquezas para os grandes
grupos econômicos. Temos uma das piores educação do mundo, atrás do Haiiti por
exemplo, e em IDH estamos com índice abaixo o da Venezuela, país sempre
massacrado pela mídia nacional como pior modelo político e econômico da América
do Sul. Vivemos o caos diário quando saímos de casa, se não formos vítimas da
violência urbana, ao andar por ruas e estradas destruídas, ônibus superlotados,
hospitais públicos falidos e escolas desmoronando na cabeça de nossos
filhos.
Em Roraima, os problemas são ainda
mais graves por conta do provincianismo e do sultanismo exarcebado dos
dirigentes políticos. Como não temos produção econômica auto-suficiente e uma
classe empresarial forte, os recursos advindos do governo federal para obras em
infraestrutura e manutenção dos serviços públicos são ainda mais surrupiados
pelos governantes por conta de sua fusão com as empresas prestadoras de
serviços. Isso faz com que em uma obra de asfaltamento de uma estrada orçada em
1,3 milhão, somente 300 mil seja aplicado na prática, como foi o caso da
denúncia feita na ALE envolvendo o deputado que chamou os estudantes de
“macacos”. Isso também explica o fato de que, apesar de termos o um dos maiores
investimentos percapita em educação do país, nossas escolas públicas são um
amontoado de escombros. Disso tudo resulta o acúmulo imensurável de riqueza de
nossos dirigentes políticos, que se comportam como se fossem verdadeiros
sultões à custa do patrimônio público, e a total precariedade de nossos
serviços públicos.
Não há saída para o Brasil que não
seja pela via da revolução social. Todo modelo político e econômico até agora
implementado apenas manteve o status de país com a maior concentração de renda
do mundo. Não existe perspectiva de desenvolvimento econômico e social sem
distribuição de riqueza, assim como não há meio de transferir somas colossais
de nossa riqueza nacional ao grande capital sem comprometer a qualidade de vida
dos brasileiros.
A mudança necessária é a mudança de
sistema político e econômico e não apenas dos governos continuístas.
Parece que um dos slogans do
espetáculo circense usado para entorpecer o povo nesse momento de exaustão
social se tornou um tiro pela culatra: “Vem para rua que ela é a maior
arquibancada do Brasil”. Mas o povo não fez das ruas uma mera arquibancada para
assistir inerte tudo que está acontecendo e sim seu principal campo de batalha!
Reginaldo Carvalho
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