Com o inicio das conversações para a retomada do dialogo entre Cuba e os EUA, o mundo rever o renascimento de alguns tópicos que para os teóricos burgueses e para a pedante academia brasileira já era letra morta, o Marxismo demonstra mais fôlego que todas as artimanhas americanas e todo o bombardeio ideológico da direita no globo.
Sinto-me na obrigação de demonstrar todo o processo histórico que fomentou essa dita derrocada do marxismo, mas dessa vez me absterei desse processo, mesmo a sua relação econômica típico das análises marxistas, para tão somente me ater aos desdobramentos filosóficos, esses sim na atual etapa de luta de classes merece destaque e, para não dizer que eu não falei das flores e construir um manual prático para orientação da luta política dentro e fora do Marxismo.
Podemos começar com a morte do Marxismo, tão propalado no final da década de 80 do século passado, o Marxismo foi vilipendiado, arrancado das academias e finalmente enterrado com o fim da história. Por anos, ser marxista era algo tão démodé, mesmo sem o charme de outrora, chegamos ouvir barbaridades tipo “nem Marx era marxista” e por ai a fora.
Certamente a campanha promovida contra o Marxismo pode ser apenas comparada a perseguição romana ao cristianismo, no século primeiro após a morte de Jesus. Com uma diferença básica, contra o Marxismo a burguesia utilizou a internet, além é claro dos atuais meios de comunicação de massa, inclusive a transmissão por satélite.
Os americanos queriam simplesmente esmagar o pensamento Marxista, da mesma forma que eles fizeram com seus índios, o que os espanhóis fizeram com as tribos indígenas do México, e assim por diante, e vamos ser sinceros quase o conseguiram, abriram mão mesmo de táticas até então desconhecidas e algumas de difícil explicação, como é o caso do constrangimento, do terror psicológico e da perseguição política que culminava com o processo de disseminação da esquizofrenia em determinados militantes suscetíveis a esse tipo de ataque.
Essa questão teórica ainda é a mola de toda a pesquisa para a atualização do Marxismo, pois ela permite a compreensão dos diversos mecanismos para a derrocada dos países do Socialismo Real, inclusive o câncer gerado pelas suas próprias contradições sociais: o Stalinismo. Um trabalho maior que ainda está em fase de pesquisa de campo, mas têm dois grandes objetivos o primeiro é a análise que levaram a destruição dos Estados Operários Deformados, e a segundo e a construção de novas teorias políticas, econômicas e sociais que as justificassem, sem as quais não seria possível derrubar o muro de Berlim.
A metodologia utilizada na construção desse trabalho é a pesquisa de campo, com a participação de 117 casos que acompanhamos em mais de 5 países, um grupo de estudo e outro grupo de controle, que comportam mais de sete pesquisadores, todos marxistas, na qual a minha participação é na sua construção metodológica e filosófica, mas enfim, como disse é uma pesquisa ainda em elaboração, estamos já acompanhado esses cases desde 1997, e devo adiantar que ao reatar as relações diplomática entre Cuba e os EUA já teve algumas conseqüências imediatas na pesquisa.
Mas por hora vamos no ater apenas nos aspectos epistemológicos que essa retomada de relações desencadeia nas relações políticas e filosóficas dentro do pensamento moderno, ou mesmo no pós-moderno, sejam elas eurocentristas ou da chamada epistemologias do sul, todas essas variantes merecem certo destaque, entretanto no campo do conhecimento o pensamento abissal consistiu na concessão à ciência moderna do monopólio da distinção entre o verdadeiro e o falso, o que foi determinante para a consolidação da proposta de fim da teoria marxista.
Até pelo fato do pensamento Marxista ter origem européia e certamente dentro do contexto da epistemologia do sul, se enquadra no processo de dominação civilizatória de uma idéia superior, onde o pensamento no restante do mundo não civilizado perpassa pela sua distinção entre o certo e o errado, o problema dessa compreensão é o não ajuste do processo de contribuições filosóficas em uma linha do tempo humano, independente do processo impositivo civilizatório.
A bem da verdade, o Marxismo, supera essas contradições a partir da identificação de uma processo anterior a construção epistemológica, o próprio processo metodológico! Essa perspectiva de atribuir tão somente a construção conceitual o resultado final é bem típico de quem não compreende toda a formação do conhecimento, sem a qual não se tem validade cientifica.
Obviamente que não se pode negar que a construção das críticas a forma de pensar do europeu e do americano do norte influenciaram e ainda influenciam toda a chamada civilização moderna e contemporânea, mas acreditar que o processo de construção do pensamento humano, mesmo que em outras épocas ou mesmo em outras eras e em dimensões distintas não se comunicavam, não se encontrando em parte nenhuma, ou mesmo sendo completamente distinta de uma humanidade, não quero que isso seja determinante para uma completa falência do pensamento moderno ou mesmo dele pós essa modernidade.
Se identificarmos ele a partir de uma compreensão que se desenvolve de forma combinada e desigual elimina-se os valores de dominação o que resulta em outro processo de construção epistemológico, o que certamente não se enquadra nos valores apresentados nem pelos críticos ao Marxismo, nem mesmo aos críticos ao pensamento moderno, em ambos os casos, eles descartam que essa comunicação entre o pensamento humano possa ter existido, o que renega profundamente o pensar dialético.
Ao antecipar o processo de construção epistemológico a um método que abrange distintas combinações de análise e que levam em consideração sua negação e a negação da negação, além do quantitativo e o qualitativo, as suas antíteses e sínteses e, sobretudo, que possam combinar forma e conteúdo, como diria o grande filósofo paraense Paulo Gaya, ainda não vi ninguém enchendo paneiro com água, mas acima de tudo que essa combinação de elementos metodológicos possa compreender outro elemento fundamental para se comportar como uma categoria de estudo, o desenvolvimento desigual e combinado.
Antes de entramos nas questões metodológicas da compreensão epistemológica deve-se ressaltar que fazemos parte de uma única humanidade que tem na sua construção histórica etapas distintas, diferentes e distantes, e que não se pode construir uma compreensão maior ou menor de cada uma dessas etapas, em lugar nenhum do globo, o processo civilizatório, seja ele imposto ou mesmo desenvolvido a partir de conceituações distintas dos centros que emanam o saber, é genuinamente gerado a partir de disputas políticas nas suas sociedades, não há como distinguir o explorador e dominador europeu de um explorador e de um dominador local, as relações tribais estavam e estão fadados ao processo de desenvolvimento econômico, social e político, e não se encerrará pela simples compreensão de que não se deve impor um Deus ou mesmo uma moeda a qualquer um, em qualquer época e em qualquer sociedade.
Valores éticos e morais sempre serão movimentos em disputa constante, não há em nenhum momento histórico conhecido de desenvolvimento do pensamento humano que ele tenha sido aceito pela simples evolução, de uma simples aceitação, de um simples convencimento. Critérios humanos como a individualidade, a crença, as relações sociais e políticas sempre serão em última análise os critérios que determinaram os conflitos humanos, e que estarão intimamente ligados ao processo de desenvolvimento dos meios de produção. A aceitação que é no conflito, seja ele violento ou não, que se desenvolvem as potencialidades humanas é uma constante e não apenas uma variável na história das diversas civilizações conhecidas.
A diferença entre esses distintos processos está justamente na compreensão daqueles elementos que são únicos em todos, e que se repetem até a exaustão e simplesmente são renegados sistematicamente, pois eles revelam uma ordem, um sistema, leis gerais e mesmo específicas, uma forma que não determinam seu conteúdo, mas disciplinam sua interação com o humano. Essa compreensão pode ser avaliada mesmo a partir de uma memória genética, estamos tão a beira de uma construção teórica dentro da biologia que permitirá identificar genes que repassam a outras gerações saberes que eles logo, depois de decodificados, serão aperfeiçoados e colocados em uma chave que liga e desliga ao interesse coletivo.
Esse é apenas um elemento do desenvolvimento humano combinado, a genética ela é a representação física, química e biológica dessa evolução, a forma como ela se dá ainda não está totalmente claro, mas temos a convicção que ela existe, e que fatores sociais, políticos e econômicos também dão essa formatação a própria espécie humana. Longe de ser uma tese é uma certeza cientifica, o mapeamento do DNA humano nós dá essa comprovação.
Esse desenvolvimento obviamente não é igual, ele é diversificado, e levam em consideração fatores externos, com o próprio meio ambiente, lembro-me de ler na autobiografia de Trotsky que ele considerava importante o período que ele passou na Sibéria, pois assim ele teve tempo de elaborar e pensar sobre o mundo, em pequena proporção esse período que ele ficou recluso permitiu a ele ter uma perspectiva diferente da vida, podemos citar outros como o próprio Gramsci onde suas cartas do cárcere são importantes contribuições para o Marxismo.
Não quero aqui defender que os Marxistas passem férias na prisão para seu aperfeiçoamento teórico, mas isolando potencialidades e permitindo que o tempo necessário para o amadurecimento de idéias, de projetos e fatos, possam se constituir como elemento metodológico anterior a própria idéia, a projetos e a fatos.
E perceber ao mesmo tempo em que esse processo é combinado e que ele se desenvolve de forma desigual em diferentes partes do mundo, quantas vezes fomos surpreendidos por descobertas cientificas quase que simultaneamente, como os cálculos de variáveis, que gerou grande dor de cabeça a Newton, mas enfim, estamos ligados de uma maneira única e há uma espécie de consciência coletiva que pode ser tocada, nada mais objetivo, aquilo que Marx falava “que tudo que é sólido se desmancha no ar” é bem mais complexo e inteiro de que imaginávamos.
Isso não é obviamente a constatação da existência de Deus, ou de uma força invisível, mas é tão simplesmente a compreensão que a humanidade está relacionada a seu desenvolvimento anterior e posterior, de uma forma que não se pode negar ou mesmo impedir, a epistemologia do sul, com sua compreensão abissal permitiu substituir a crítica ao desenvolvimento do capitalismo do marxismo, para poder canalizar essa mesma crítica a uma beco sem saída, sem expressão e sem violência ao sistema.
Nisso se resume a tentativa de superação do Marxismo, mas que com a atual evolução das relações entre Cuba e os EUA, reabre esse debate de maneira que podemos hoje estar de pé, de compreender que a luta social ainda tem uma alma ideológica, que sustenta a luta de classes como mecanismo de movimento da luta política e que essa luta política move a história.
Ainda tem-se muito a elaborar, mas vou encerrar por aqui, com a promessa de voltar ao tema assim que possível, pois essa parte da pesquisa é fundamental para compreensão do próprio desenvolvimento humano e das suas atuais contradições, berço de toda elaboração do Marxismo de hoje!
Marcelo Bastos.
0 comentários:
Postar um comentário