sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Decidir viver ou decidir morrer?

O que nos torna humanos de fato é a nossa capacidade de nascer, crescer e morrer, por que esse é o ciclo da vida e nada que possamos fazer para mudar isso, irá de fato mudar!

Foto do Paraíso (Soure)


O temor a Deus, por exemplo, é uma esperança que essa morte possa ser recompensada após a morte, ou mesmo, que possamos nos manter em retidão e assim apaziguar os males de toda sociedade.

Esse dois elementos de forma combinada assumem proporções desafiadoras para qualquer pessoa que queira pensar sobre nosso direito de morrer ou permanecer ficar vivo.

Para quem acredita em Deus, o destino de permanecer vivo ou mesmo de partir dessa para melhor é decisão divina, mas para quem não acredita o que resta, o que pensa, mas acima de tudo o que faz a pessoa que não acredita em Deus nessa circunstância?

A escolástica cristã nos diz que o suicídio é um pecado mortal, é um daqueles que carimba nosso passaporte direto para o inferno, mas que não segue essa cartilha, aliais, para quem não acredita nela, qual o passo, o que devemos fazer, foi essa pergunta que eu tenho me feito há alguns dias.

Confesso que não foi fácil responder, até por que a vida não tem sido nada fácil, primeiro sou filho de uma empregada doméstica com um vendedor de saco do Veropa, sem grandes problemas, meus pais me ensinaram muito coisa, entre elas ir a luta, batalhar, minha mãe uma mulher corajosa e uma guerreira, meu pai um grande canalha, mas gente boa, hoje em sua tenra velhice ele se mostrou um ser humano de grande coração, confesso, tive meus apertos com eles, mas superamos, depois foi entrar no PT, nesse período tive muitos problemas, como tenho ainda hoje, mas isso me fez o que sou hoje, por fim, a queda do Muro de Berlim, nossa pensei que era o fim da história, todos os meus sonhos morreram e eu ainda nem tinha começado a lutar direito.

Mas todos têm seus dias de provar suas convicções e suas próprias verdades, e eu tive as minhas, não no sentido de pensar que um tipo de ser divino possa existir, não nunca tive essa dúvida, e do fundo do meu coração não acredito em Deus, ele é uma fantasia criada para nos manter em nosso lugar, uma esquizofrenia compartilhada das classes dominantes, mas eu pensei que na minha atual situação, de câncer, mesmo em estado inicial, me fez pensar que eu poderia decidir seu eu deveria ou não fazer o tratamento!

Obvio que o impacto inicial foi de perplexidade, mas não fiquei tão mal, afinal tinha acompanhado todas as etapas de uma pessoas próxima, desde a dor inicial do câncer, até a biopsia, o resultado, o início do tratamento e por fim, a cura, então naquele momento eu fui uma pessoa que resolver assumir a tarefa de tranqüilizar aquele ser humano, trazer conforto e informações sobre a forma do tratamento, de fazer curativos e dar apoio, carinho e atenção, fiz o que pude, o meu melhor, sem espera nada em troca, ainda bem, confesso que ela não se importou comigo, mas tudo bem, ainda a amo muito.

Enfim, com a descoberta do Câncer percebi que poderia fazer algo diferente na minha vida, resolvi escrever sobre a não existência de Deus, sobre a legalização da Maconha, sobre por que continuar no PT, enfim foram meses de muita reflexão e melancolia, de repente me vi ali em casa, trancado sem sair, até que chegou o dia de começar o tratamento radioterápico, e sair de casa com o pensamento de enfrentar logo tudo aquilo.

Mas ficava em meu pensar que a coração que eu tive de fazer e escrever essas coisas já eram inatas a minha própria existência, mas o debate do que eu deveria fazer com meu tratamento ainda me atormentava, hoje tenho convicção que devo viver, ainda tenho que jogar muito vento nessa tempestade que é a vida, além disso, tenho muito que falar e garanto a vocês vou viver.

Contudo, a oportunidade de decidir se eu devo ou não permanecer vivo me fez pensar em viver e como viver, essa decisão de viver ou não é algo que nos acompanha todos os dias, durante o dia inteiro, e por isso sempre optei em viver, mesmo correndo risco, enfrentando pistoleiros, fazendeiros, assassinos e tantos outros tipos que a luta aqui no Pará sempre nos forçou a enfrentar, devo incluir a PM do nosso Estado, já passei por tanta coisa, até ataques da dita esquerda revolucionária como o PCO, sofri mesmo perseguição política do Movimento Pró-PSTU, e nunca recuei, não tenho medo de lutar, nunca tive.

Ser ateu nesse sentido é compreender que nossa vida só vale a pena se for vivida com toda essa intensidade, e se o câncer é produto dela, que seja, isso não me impedirá de seguir minha jornada, é verdade, não tenho rumo certo, o Socialismo e a Revolução não são mais faróis a nossa frente, mas mesmo assim sonho!

E só por isso que vou continuar aqui, sonhando com um mundo melhor, e por isso hoje eu acordei e amanhã acordarei novamente para continuar com meu plano de conquistar o mundo!

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