Na crise completa por onde começa?
Criando minipolos agroenergéticos geridos por cooperativas de produtos de
mandioca.
É UMA TENDENCIA HUMANA VIVER O PRESENTE
CONVICTO DE QUE TUDO ESTA SOB CONTROLE, ATÉ QUE UMA CRISE VENHA A DEMONSTRAR A
FALSIDADE DA PROMESSA.
Em função da abundância do petróleo,
os complexos petroquímicos respondem pela quase totalidade da produção de
etileno, propileno, butenos e outros compostos fundamentais para a alimentação
da vasta cadeia de produtos que permeiam o dia a dia da vida humana no planeta.
Outras fontes raramente têm sido empregadas, por razões econômicas.
No entanto, dois países configuram
uma exceção: o Brasil e a Índia. Em ambos, o pujante desenvolvimento da cultura
da cana de açúcar abre a possibilidade do emprego do etanol em substituição aos
derivados do petróleo, com franca vantagem para o Brasil devido ao
desenvolvimento da técnica e do volume de produção.
O uso do etanol como matéria-prima
não é uma novidade. Há mais de um século tem sido empregado na produção de
moléculas com maior valor agregado, devido à facilidade com que é obtido via
fermentação de açúcares de várias fontes naturais. Antes que o petróleo se
afirmasse como a principal fonte de compostos orgânicos para indústria química
pesada, o etanol teve seus dias de glória, como atesta a multiplicidade de
patentes então registradas.
Na época da Segunda Grande Guerra, o
emprego do etanol intensificou-se em função dos esforços de guerra. A Alemanha,
a maior potência em química pesada e química fina do planeta nessa fase,
produzia então borracha sintética a partir do álcool.
Após o término do conflito, os
campos petrolíferos do Oriente Médio ficaram sob o controle dos Estados Unidos
e da Inglaterra, resultando em uma oferta de petróleo em quantidade e a preços
muito baixos, inviabilizando a alcoolquímica, de forma particular para países
que não dispõe de clima para a cultura da cana-de-açúcar.
No Brasil, Índia e Austrália, ao
longo das décadas de 1950 e 1960, a alcoolquímica ainda manteve seu espaço,
face ao preço competitivo do etanol em relação ao petróleo: são países que
então não dispunham de fontes domésticas de petróleo, mas cultivavam a cana.
Especificamente no Brasil, o fim da
década de 1960 e início da de 1970 marcou o começo do desenvolvimento da
indústria química com projetos próprios e grandes empreendimentos, que mudaram
toda a estrutura doméstica, no tocante à produção dos insumos químicos básicos,
tudo isso calcado na petroquímica, com tecnologia e preços imbatíveis.
Deve-se considerar que a
disponibilidade do etanol em larga escala para embasar com segurança tal
impulso estava, nesse momento, completamente fora de qualquer cogitação.
Esse panorama sofreu forte impacto
com a primeira crise do petróleo, desencadeada em 1973 e agravada em 1979. A
resposta do Brasil veio em 1975, com o programa ProÁlcool, voltado para o
combustível automotivo, com o ideário e engenharia gerados no CTA, em São José
dos Campos.
O programa foi um sucesso: na safra
1979-1980, já se produzia 3,4 bilhões de litros de etanol e, no ápice, chegou a
12,4 bilhões de litros na safra 1986-1987. Este soçobrou em 1989: a elevação
dos preços do açúcar no mercado internacional em 1988 tornou muito mais
atrativa sua venda, em lugar de convertê-lo em etanol, provocando a falta do
produto no mercado interno e o descrédito ao programa.
Processo semelhante ocorre no período
que abrange as safras 2009 e- 2010, pelos mesmos motivos: fatores climáticos
reduziram a safra de açúcar indiano, com consequente elevação dos preços
internacionais e redução da oferta de etanol no mercado interno.
Embalada no sucesso do plano, a
ciência brasileira voltou-se para as possibilidades que o etanol farto abriam,
retomou os estudos da década de 1950 e reviu velhas lições ditadas pelas
necessidades de 1940, tanto que em 1981 realizou-se o I Congresso Brasileiro de
Alcoolquímica em São Paulo, com participação ativa de pesquisadores do Cenpes /
Petrobras.
É uma tendência humana viver o dia
convicto de que tudo está sob controle, até que uma crise demonstre a falsidade
da premissa, assim, velhas ideias, recheadas com novas e muito mais eficientes
tecnologias, não chegaram à maturidade de projetos industriais concretos, que
de resto levam tempo para serem concretizados: a falência do Pró-Álcool
paralisou eventuais projetos em andamento. As unidades industriais que
produziam seus insumos químicos a partir do etanol, operacionais já na década
de 1970, continuaram a operar regularmente no Brasil, e é assim até hoje.
As décadas de 1990 e 2000 viram
novamente o predomínio incontestável da petroquímica. A elevação estratosférica
dos preços do petróleo, no entanto, fez que a alcoolquímica voltasse às mesas
de projeto, e a crise de 2007 de pronto colocou-a na prateleira, a espera de
novas crises ou necessidades, como uma nova alta no preço do petróleo, puxada
pelo consumo mundial, ou ainda o aceno atual do aquecimento global. A conclusão
do Fórum de Copenhague, no entanto, é um sério indicativo de que a via política
dificilmente marcará uma posição clara na direção dos insumos renováveis,
forçado pelas pressões de interesses inerentes à própria estrutura que controla
o poder na sociedade.
MINIPOLOS AGROENERGÉTICOS
As regiões NORTE-NORDESE apresentam uma
grande potencialidade de produção de frutas tropicais e plantas básicas para a
alimentação humana e animal. Nessa potencialidade, destaca-se a do cultivo da
mandioca, de baixa exigência de qualidade de solo e com possibilidade de
produção ao longo de quase todo o ano.
Ligado a realidade dos pequenos agricultores
da região Norte-Nordeste esta a produção da mandioca que possui alto teor de
amido (20% a 30%), além de servir de base para uma alimentação de subsistência
humana, o cultivo desta também permite ao pequeno agricultor a criação de
suínos alimentados pela ração obtida por meio do aproveitamento dos resíduos
resultantes do processamento da planta.
O processamento para a produção de
produtos de maior valor agregado – como a tapioca e bioetanol para a produção
de bebidas alcoólicas – é ainda incipiente e pode ser mais bem explorada no
Brasil. A fécula (amido de mandioca) é a substância nobre da raiz da mandioca,
de enorme versatilidade como insumo industrial. Deve-se ressaltar que a Embrapa
tem desenvolvido excelentes trabalhos relativos à mandioca, por meio de seu
Centro de Estudos localizado em Cruz das Almas – BA.
Esta tem uma excelente
infraestrutura técnica para apoiar os agricultores no cultivo da mandioca,
tanto na orientação dos tipos da mandioca a serem plantadas bem como nas
técnicas de plantio. Numa figura com a mostra da árvore do amido de diversas
fontes de matéria-prima vegetal novamente pode-se observar os inúmeros produtos
alimentícios e industriais que podem ser viabilizados a partir de cultura da
mandioca e de outros produtos agrícolas.
Deste modo paralelamente ao
processamento industrial da mandioca para a obtenção de derivados de maior
valor agregado, em paralelo, poderiam ser implantadas miniusinas para a
produção de álcool combustível a partir da mandioca, ou seja, o aproveitamento da
planta na região Norte-Nordeste poderia ser feito por meio da implantação de minipolos
agroenergéticos.
O álcool combustível produzido seria
destinado ao uso dos agricultores produtores de mandioca, sócios das entidades
jurídicas formadas para a industrialização desta, com comprometimento formal de
fornecimento da matéria-prima da mandioca necessária para a miniusina de
álcool.
O minipolo agroenergético seria
formado por duas entidades: Miniusina de álcool: destinada a produzir álcool
combustível a partir da mandioca.
De imediato, poderia ser definida
como uma miniusina com as seguintes características: Capacidade de produção:
10.000 l/dia; Matéria-prima necessária: raízes de mandioca com teor médio de
amido igual a 30% (66 t/dia); e Esquema de produção: a miniusina deverá operar
330 dias/ano, 24 h/dia, em três turnos de oito horas.
Considerando-se um consumo médio de
300 l/mês por automóvel, a miniusina poderá sustentar 1.000 veículos
consumidores de álcool. Descritivo do processo: basicamente, o processo de
produção de álcool combustível a partir de mandioca ocorre de acordo com as
seguintes etapas:
Recebimento
e preparo da matéria-prima: esta etapa inclui a inspeção para
verificar a inexistência de objetos estranhos, pesagem, estocagem, lavagem e
despelamento.
Cominuição
(moagem): a mandioca é picada e moída para redução de suas dimensões a fim de facilitar
as etapas seguintes do processo.
Cozimento:
feita para gelatinizar o amido contido nas células da mandioca para permitir a
ação dos sistemas enzimáticos na hidrólise subsequente.
Hidrólise:
o amido gelatinizado é transformado em açúcar pela ação de enzimas previamente
preparadas, resultando o mosto principal que vai para a fermentação.
Fermentação:
os açucares contidos no mosto são convertidos em álcool etílico pela ação de
leveduras. Durante a fermentação dióxido
de carbono (CO2) é
produzido, o qual pode ser recuperado para uso industrial.
Destilação
e retificação: o vinho filtrado é pré-aquecido e
enviado para o sistema de destilação e retificação, no qual recebe calor para
sua liberação do vinho e recuperação do álcool etílico.
A bebida efluente do citado sistema
sai praticamente isenta deste último. O álcool etílico recuperado no sistema é
resfriado e enviado para tancagem.
Tratamento
de efluentes: os efluentes líquidos são tratados e
parte retorna ao processo. O tratamento é feito para as reduções da demanda
biológica de oxigênio (DBO) e da demanda química de oxigênio (DQO), principalmente
do vinhoto.
Este último poderá ser utilizado
como fertilizante, sendo lançado diretamente sobre a plantação de mandioca. Por
digestão anaeróbica do vinho, pode-se produzir gás metano, o qual é queimado
nas caldeiras de geração de vapor da usina de álcool.
Equipamentos
principais: os equipamentos da usina de álcool
são constituídos por balança, bombas diversas, caldeira, colunas de destilação,
dornas, filtros, lavadores, misturadores, moinhos, picador, tanques,
transportadores, trocadores de calor e vasos de pressão diversos. Todos os
equipamentos poderão ser fabricados e fornecidos pela indústria nacional.
A miniusina de álcool necessitará da
seguinte estrutura de mão de obra direta para operação: 28 pessoas – para três
turnos, incluindo feriados; para suporte da operação: cinco pessoas; para o
gerenciamento e a administração: seis pessoas. Mini-indústria: destinada a
processar a mandioca para a linha de alimentos. A linha de produção deverá ser
definida conforme o potencial de mercado a ser levantado.
Em ambos os casos, as entidades
deveriam ser cooperativas formadas
por produtores de mandioca, sócios diretos destas, os quais teriam os seguintes
compromissos formais: a plantação de mandioca não poderá ultrapassar 20% da
área de sua propriedade e deverá seguir regras de rotatividade das plantações;
e fornecer mandioca para a operação de três a cinco dias de operação da entidade
formada, dependendo da área agrícola de sua propriedade.
Também poderia ser integrada nos minipolos
agroenergéticos a cana-de-açúcar.
Apresenta-se a árvore simplificada
de derivados da sacarose e mostram-se os processos e os produtos que poderão
ser obtidos da sacarose extraída desta cultura.
A produção de combustíveis
automotivos, tomando como ponto de partida a transformação de materiais
orgânicos renováveis é, pela sua própria natureza, um fator de geração de renda
voltado para a área agrícola e, portanto, diretamente ligado à renda das
comunidades distantes dos grandes centros urbanos fortemente industrializados.
Sua produção exige a transformação in
loco das matérias-primas face ao custo do
transporte, alocando a agroindústria em comunidades pouco industrializadas,
sendo, portanto, um fator positivo no adensamento da cadeia produtiva, além da
evidente necessidade de extensas áreas cultivadas, que por si só promovem a
inclusão da comunidade na cadeia produtiva.
Pode-se separar a produção do
biocombustível segundo o tipo de matéria-prima empregada: etanol obtido pela
fermentação de açúcar extraído da cana; etanol obtido pela fermentação de
açúcar gerado pela conversão química de amidos; etanol obtido pela fermentação
de açúcar gerado pela conversão química da celulose; e conversão de óleos
vegetais em compostos que podem ser empregados como combustível em motores
movidos a óleo diesel, sem alteração do motor.
A produção do etanol a partir da
cana-de-açúcar é uma tecnologia plenamente desenvolvida e dominada pelo Brasil.
Seu incentivo e planejamento da expansão passam naturalmente pela criação de
infraestrutura que permita a correção dos solos a serem empregados e a
disponibilização de água.
No caso, a água acaba por ser o
fator limitante e que exigirá os maiores investimentos, passando pela
perfuração de poços e pelo gerenciamento de açudes.
É evidente que em áreas com grandes
variações na disponibilidade de água, a criação de uma estrutura que abra a
perspectiva não de abundância, mas de correta distribuição por si só, será um forte
fator de adensamento produtivo.
O tipo de cultura que a esse sistema
se agrega não somente deverá ser seletivo em não gerar apenas matéria-prima
para ser exportada para outras regiões, mas também dispor de meios, por simples
que sejam, de transformá-la para agregar valor e gerar trabalho.
As grandes áreas do sudoeste do
Brasil ocupadas por canaviais geram riquezas que se traduz no evidente
desenvolvimento social das comunidades em que estão alocadas.
O etanol obtido pela fermentação de
amidos realizada pela transformação química destes, nos países de clima mais
frio que o Brasil, tem como fonte o amido de milho ou de outros grãos,
empregando matéria-prima valiosa.
Some-se a isso o fato de que o
processo industrial exigido em sua manufatura percorre rotas mais dispendiosas
que aquela da cana-de-açúcar, incluindo-se um maior dispêndio de energia.
Para países da América Latina ou da
África, o emprego de grãos não faz sentido: seu uso como alimento humano ou
animal é muito mais importante. No entanto, há a possibilidade de se empregar a
mandioca. Esta planta apresenta um elevado teor de amido, sua cultura não exige
solo rico podendo ser cultivada em solo semiárido, sua colheita pode ser feita
nos 12 meses do ano e a técnica de plantio é plenamente difundida.
Mais importante ainda: pode ser
cultivada em glebas de pequena área. Assim, a criação de uma cooperativa
regional que processe a mandioca produzida pode envolver um grande conjunto de
pequenos produtores.
A transformação de amido em açúcares
fermentescíveis é uma tecnologia já plenamente desenvolvida e dominada no
Brasil, podendo ser prontamente implementada.
A conversão de materiais
celulósicos, como palhas, madeira etc., em açúcares fermentescíveis, para que
nessa fermentação se possa produzir etanol, está atualmente sendo pesquisada em
profundidade (DEMIRBAS, 2005).
Não é uma tecnologia já consolidada.
Sabe-se como fazer, mas o processo ainda demanda um custo energético elevado.
Em países de clima frio, o objetivo é o aproveitamento da palha e do sabugo do
milho para a produção de etanol, somando-se este ao etanol pela conversão do
amido. As dificuldades estão centradas na produção em escala econômica das
enzimas que promovem a conversão da celulose em açúcares, especialmente se esse
etanol for competir, em termos de preço, com o produzido a partir da
cana-de-açúcar.
Como subproduto de um processo, a
hidrólise de materiais celulósicos pode tornar-se promissora, como é caso do
emprego de sabugo e palha de milho, no qual o processo principal converte o
amido do milho em etanol.
Para o Brasil, pode-se destinar,
como já tem sido planejado, parte do bagaço e da palha da cana-de-açúcar
gerados no processo para a conversão em etanol, via hidrólise da celulose.
Da unidade que produz açúcar e
etanol da cana-de-açúcar resultam em torno de 440 kg de bagaço para cada 1.000
kg de cana-de-açúcar alimentada ao processo, com 50% de umidade, representando,
portanto, 220 kg de matéria seca. Esta última contém celulose, que pode, pela
ação de enzimas, ser convertida em açúcares fermentescíveis, produzindo etanol.
Resta, nesse ponto, um importante balanço a ser feito pelo investidor: será
mais compensador converter o bagaço gerado em uma massa a mais de etanol, pelo
investimento na construção de uma unidade industrial anexa, ou gerar mais
eletricidade pela sua combustão na caldeira que naturalmente a fábrica já
disporá.
A produção de bioetanol a partir de
gás de síntese não necessita de microorganismos para conversão em etanol; neste
caso, isto ocorre em reatores químicos com catalisadores, podendo produzir
etanol diretamente (gás para etanol) ou primeiramente metanol (gás para
metanol) e em seguida etanol. A viabilidade destes processos físico-químicos
ainda não apresenta resultados adequados quanto ao custo.
Pode-se considerar que o etanol
produzido é renovável, quando é produzido de forma a contribuir para a
diminuição do efeito estufa (BÖRJESSON, 2009), isto é, as plantas de bioetanol
utilizam biomassa, e não combustíveis fósseis; os produtos são utilizados
eficientemente e quando as emissões de óxido nitroso são mínimas.
A produção de combustíveis para
motores movidos a diesel a partir da transesterificação de óleos vegetais, seja
com etanol, seja com metanol, tem, por sua vez, alguns atrativos: pode ser
realizada em microunidades industriais e não exige tecnologia ou equipamentos
sofisticados.
No entanto, o óleo vegetal deverá
ser produzido a partir de plantas que apresentem viabilidade econômica. No
momento, o mais rentável é ainda a conversão de óleo de soja, pela escala de
produção e pelo fato de que este pode quase ser considerado um subproduto, em
função dos preços e dos usos das proteínas isoladas após a extração do óleo.
Isso não quer dizer que o óleo de
algodão, girassol, amendoim, palma e, até mesmo, algas não possam ser
empregados, necessitando apenas que a cultura dessas espécies seja possível e
econômica na região pretendida.
A produção de biodiesel utiliza
diferentes matérias-primas, a saber: óleos naturais (soja, amendoim, palma,
canola, girassol e algas); gordura animal; resíduos industrias; óleos
reciclados, entre outras.
Esta utiliza processos de
transesterificação com diferentes tipos de catalisadores químicos ou
enzimáticos (ENWEREMADU; MBARAWA, 2009).
A biomassa também é matéria-prima para
a produção de biodiesel utilizando processos de pirólise (tratamento térmico a
altas temperaturas), gaseificação e posterior conjunto de reações catalíticas
com o gás de síntese. Estes processos são chamados de BTL (biomassa produzindo combustíveis
líquidos).
Na figura x3,
observa-se a diversidade de matérias-primas existentes e os diferentes
processos para a conversão em biocombustíveis.
Pode-se observar também como varia
em quantidade (volume) de matérias-primas necessária à produção, nota-se que os
processos de gaseificação de biomassa necessitam de maior volume e a produção
de biodiesel a partir de óleos naturais um menor volume.
Em relação ao custo da
matéria-prima, a biomassa tem um menor custo, os amidos e açúcares, custos
intermediários e os óleos naturais custos maiores.
Em relação às tecnologias
existentes, a produção de biodiesel a partir de óleos, açúcares e amidos é
tecnologia consolidada, mas, para os processos de transformação de biomassa e
de materiais lignocelulósicos, as tecnologias estão em desenvolvimento e
apresentam grandes desafios para a inovação.
Os processos também estão divididos
em tecnologias de primeira geração, nos quais as tecnologias são comerciais, de
segunda geração, os quais são tecnologias emergentes, e de terceira geração, os
quais ainda são tecnologias em desenvolvimento.
Se a tecnologia que viabiliza uma
biorrefinaria é disponível, a matéria-prima nem sempre o é. De uma década para
outra, as condições econômicas e o mercado para o açúcar, o etanol e o petróleo
têm se alterado de tal modo que tornam as decisões pelo investimento ou não
excessivamente inseguras.
No mercado brasileiro a produção do
bioetanol está diretamente ligada ao mercado internacional de açúcar. Quando a
demanda por açúcar no mundo aumenta ou ocorre uma quebra de produção, como a
que ocorreu em 2009, a produção deste biocombustível é prejudicada e o mercado
se retrai na sua utilização.
Independentemente dos preços do
petróleo, cuja variação sempre acontecerá, o único modo de viabilizar a
operação de uma biorrefinaria é verticalizar o processo: a unidade de
transformação do etanol em etileno e de etileno em outros produtos, como óxido
de etileno e etilenoglicóis, polietileno e acetato de vinila, deverá estar
anexa à unidade que produz o etanol. Assim, o suprimento de etanol às unidades
transformadoras estará garantido, independente das flutuações do mercado de
açúcar.
Há uma segunda vantagem que não pode
ser deixada de lado nessa análise: o processo de produção do etanol pela fermentação
do açúcar de cana produz mais energia que consome, e a energia excedente
viabiliza o processo de produção do etileno.
A produção de bioetanol esta
diretamente ligada à disponibilidade de grãos (milho), cana-de-açúcar e,
talvez, de mandioca. Esta última foi utilizada no Brasil para a produção de
etanol e atualmente existem plantas de produção usando-a na Tailândia. Além dos
Estados Unidos, outros países, como Canadá e Argentina, estão analisando a
utilização do milho como matéria-prima para o etanol (KLINE et
al., 2007).
Não é possível conduzir uma política
de uso do bioetanol renovável sem utilizar novas fontes de matérias-primas que
não estejam atreladas ao mercado mundial de commodities,
como no caso do açúcar e do álcool. Para a produção de biodiesel, também são
utilizados matérias-primas de fonte alimentar.
No Brasil, principalmente nas
regiões Sul e Sudeste, as maiores consumidoras de diesel no país, a produção de
biodiesel utiliza como maior fonte de matéria-prima o óleo de soja. O cultivo
nacional desta planta será capaz de atender à demanda crescente de biodiesel.
Para estas duas regiões, são cerca de 8 bilhões de litros de biodiesel,
considerando um consumo anual de 40 bilhões de litros com 5% de biodiesel.
No futuro, talvez este mercado sofra
os mesmos problemas que o mercado de açúcar e álcool está enfrentando no
momento, isto é, um melhor preço no mercado internacional e o desvio da
produção para exportação e falta de matéria-prima para produção de biodiesel
localmente. O dilema do uso de matérias-primas alimentícias ou não sempre
pesará sobre este mercado. A busca de novos recursos ou processos está
acontecendo. O uso de biomassa lignocelulósica para a produção de bioetanol é
muito promissor e uma opção para países que não produzem grãos. Materiais
lignocelulósicos são baratos, abundantes e renováveis e podem minimizar os
efeitos da produção de bioetanol a partir de fontes alimentares (BALAT; BALAT,
2009).
Para a produção de biodiesel, também
estão sendo buscadas novas fontes de matérias-primas, as algas, que utilizam CO2 e energia solar para a produção de
óleos, são uma das alternativas que estão sendo estudadas em vários países (FJERBAEK
et al., 2008), inclusive no Brasil, com
chamadas específicas das agências de fomento do governo. O mercado dos
biocombustíveis é diferente do de petróleo. No Brasil, esta diferença é bem
marcante. A produção destes, além de ser uma necessidade do mercado, esta
fortemente ligada a política de governo e demanda sociais.
Conclusões
Para avançar rumo ao desenvolvimento no
Brasil do século XXI será necessário permitir aos excluídos que este disponham
de propriedade privada individual e uma maneira de viabilizar tal necessidade é
fomentando arranjos produtivos locais os quais se possível devem estar casados
aos grandes empreendimentos da cadeia produtiva nacional.
Uma das características marcantes do
Brasil é a diversidade socioeconômica e cultural existente ao longo de seu
território.
Essa diversidade remonta ao início
da organização da nação brasileira, diante de um processo de colonização que
ocorre de formas muito distintas entre suas regiões.
Ao mesmo tempo em que as
pluralidades de culturas e de formações geográficas são fontes de riquezas e de
inspiração para os brasileiros, as grandes diferenças socioeconômicas podem
enfraquecer seu pacto federativo e seu desenvolvimento socioeconômico. Um
desenvolvimento de políticas públicas geradora de renda e, como consequência de
melhores condições de vida em regiões com baixo IDH deve estar entre as
prioridades da sociedade.
As regiões Norte-Nordeste são
habitada por aproximadamente 30 % da população nacional que sobrevive com
grandes bolsões de pobreza econômica e social em relação às demais regiões do
Brasil, daí a necessidade desenvolver uma indústria de substituição de matérias
primas de origem petroquímica por insumos obtidos a partir do Bioetanol, base
para a instalação de uma Industria Acoolquimica e o desenvolvimento de uma
estrutura para produção de Biocombustível e deste modo gerar uma classe
operária fruto de um arranjo produtivo
local a qual graças a vida comunitária e paroquial poderá criar fortes
laços de solidariedade e ser menos propensa a vida endonista típica do operariado dos grandes centros
fortemente influenciados pelo modo de vida da pequena burguesia urbana, e sua
cultura individualista.
Para o desenvolvimento econômico
regional, é fundamental a melhoria e disseminação do grau de escolaridade da
população em todos os níveis, desde o primário até o universitário, para que
esta possa assimilar e incorporar o desenvolvimento tecnológico necessário para
a região.
A união de esforços dos dirigentes
políticos da região, dos estados e dos municípios, considerando que seu
desenvolvimento econômico, social e cultural é mais importante e deve ficar
acima das divergências políticas e interesses pessoais e ou partidarios.
Portanto,
todos devem se conscientizar de que este é o momento em que todos devem unir
esforços para lutar pelo desenvolvimento da região Norte-Nordeste, aproveitando
as oportunidades que se apresentam para: atrair a implantação de complexo de
fertilizantes básicos na região, fundamental para a produção dos insumos
necessários à agricultura; propiciar o desenvolvimento industrial
metal-mecânico de apoio ao complexo de fertilizantes; permitir o desenvolvimento
de instalações industriais misturadoras de fertilizantes básicos nas regiões de
maior consumo; propiciar o desenvolvimento de pequenas e médias empresas na
área agroindustrial; e promover as condições para o adequado desenvolvimento da
mão de obra necessária para o sucesso de um desenvolvimento sustentado na
região.
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