quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Luta de Classes no PT: A Síndrome de Cinderela de Lula

Luta de Classes no PT: A Síndrome de Cinderela de Lula

Lula e Renan: a carruagem ainda não virou abobora.
Foto: Beto Macário/UOL

Os Marxistas tem a obrigação de toda vez que fizerem uma afirmação comprovar que ela corresponde a realidade, pois a cientificidade de nossas afirmações são produtos de um método científico, que parte da construção da teoria científica na formulação de hipóteses, na construção de problemas, em variáveis e objetivos, mas acima de tudo, tem o método dialético, com seus contornos como a negação da negação, a passagem da síntese para antítese e vice-versa, a transformação quantitativa em qualitativa e vice-versa e por fim o desenvolvimento desigual e combinado.

A realidade é produto de fatos sociais que se desenvolve progressivamente ou não, pois os elementos que os compõe em diversos momentos podem ser contraditórios e até mesmo irreconciliáveis, pois os interesses de classes envolvem essa realidade e a disputa política de seus agentes é que move a sociedade, entre os interesses dos explorados e dos exploradores se constrói e realidade!

E a realidade nem sempre é tão fácil de ser compreendida, como explicar para a população brasileira que apoia Lula e o PT e são contra o golpe orquestrado pelas elites e que teve como protagonista o PMDB, se agora Lula anda a tiracolo com Renan Calheiros, um dos maestros do golpe parlamentar?

A confusão que isso gera na cabeça e no coração de milhares de militantes, de seguidores e de lutadores sociais é o tema desse pequeno artigo, pois precisamos esclarecer que essa postura, para além da educação burguesa de Lula e para além das alianças eleitorais, tem um pano de fundo que precisa ser entendido, precisa ser dissecado, precisa ser analisado.

Em primeiro lugar o PT surgiu como uma antítese ao Socialismo Real, pois queira (queria não quer mais) construir um Socialismo Democrático, ao absolutizar os termos não compreende que o processo político e filosófico requer uma dimensão maior, e que entre dois pontos existe um infinito de proposições, mas isso é apenas no que se refere aos conceitos de esquerda, na maior parte do tempo o PT e seu comando político sabe utilizar dessa variável a seu bel prazer, como vimos durante toda a história do PT. O próprio conceito de aliança eleitoral se molda a cada realidade e se comporta como um parasita e sobrevive em toda forma de poder.

Essa semana fui a uma palestra do Frei Beto, queria perguntar a ele sobre a morte de Carlos Marighella, mas desistir frente a muitas afirmações contraditória e sem a menor fundamentação com a realidade de nosso país, parece que da janela do convento Beto não consegue ver o Marxismo com método de análise, o vê apenas com um roteiro ou com um livro sagrado.

Contudo, ele fez uma afirmação que a eleição de Lula é produto de um acumulo de forças de 40 anos, que começa ainda na Ditadura Militar com as CEB’s, esquece que o PCB já tinha começada uma luta muito tempo antes e a esquerda nacional sempre teve como meta, sob orientação de Stálin, a subordinação a uma burguesia nacional, pois para a etapa revolucionária mundial composta pela estratégia stalinista era necessária uma revolução nacional antes da revolução socialista, o que fez que os setores da esquerda, mesmo a osmose, continuassem com essa inversão de valores na luta de classes, fez a esquerda ver como bonzinhos esses burgueses nacionais progressistas, termo absurdo e leviano!

Enfim, a carta aos Brasileiros só foi mais um capítulo dessa novela que começou antes das CEB’s que Frei Beto insiste em afirmar que foi onde tudo começou, ledo engano, ainda somos produto direto da Revolução de Outubro para o bem ou para o mal!

O Problema central nesse processo foi o abandono, não recente da perspectiva revolucionária, não é a revolução mais a estratégia central dos atuais e legais partidos de esquerda desse país, e isso não é de agora, é antigo!

A medida que a guerra fria chegava no seu apogeu ainda na década de 60 com a pirotecnia nas Baia dos Porcos, EUA e a URSS dividiam o mundo entre áreas de influência, de mercado e de consumo. A pressão que URSS fazia sobre os EUA não era e nunca foi ideológica, apenas um mecanismo de conquistar mais mercado de consumo, já que sua produção planejada cada dia era maior, e o processo de consumo global não se encaixava em suas metas produtivas, assim o mundo precisava descobrir os produtos soviéticos e a forma seria em primeiro momento fazer com que as burguesias em países em desenvolvimento ou como eram chamados essa economias de terceiro mundo, para que elas pudessem ter acesso a essas mercadorias produzidas atrás da cortina de ferro.

Logo a estratégia após a segunda guerra era ampliar sua área de influência a partir da violência e assim foi no Leste Europeu e depois articular uma estratégia política que permitisse conciliar as crescentes demandas por lutas revolucionárias no mundo a seu processo econômico e produtivo, canalizando assim dois forças, a financeira e a política para desenvolver uma teoria de revolução nacional onde pudesse dar lucro e dinheiro para essa burguesia progressista e ainda aliviar a pressão por novos mercados a partir dos dados da produção soviética de bens de consumo, basta analisar os dados referentes a produção industrial soviética com as revoluções nacionais, particularmente na Ásia e na África onde foram bem sucedidas, já que na América Latina a presença do Brasil e dos EUA não permitiam a entrada de novos concorrentes.

Deve-se destacar o papel complicado que o PCB teve que realizar em encontrar burgueses progressivos no país, alguns tiveram que ser formados pelos então stalinistas brasileiros, e assim o PCB, já em sua origem abdica de lidar com os operários e se centra na possibilidade de construir um pensamento burguês progressista no Brasil.

Bem se até aqui deu para compreender que na história da esquerda no Brasil sempre tentamos procurar em nossos algozes algumas forma de bondade, já podemos compreender o PT e sua submissão aos golpistas! Contudo deve-se aprofundar essa compreensão para entender o conceito atual que se utiliza dessa construção histórica e que permite a burocracia do PT caminhar impunimente dentro da esquerda na América Latina.

A partir do abandono do conceito de Revolução pela burocracia do PT e com a proximidade gradual com o aparato do Estado, houve uma evolução no conceito de burguesia nacional progressista, não precisava mais procurar na classe burguesa os dirigentes de uma nova etapa social, bastava encontrar neles aliados táticos, que pudessem ser eleitoralmente válido e eficaz.

Essa transformação se consolida em quase 20 de formulação do PT, o processo que antes era de disputa de hegemonia social passa para ser vitória eleitoral, pois a classe parasitária do PT tinha migrado dos sindicatos e das associações para os mandatos parlamentares, esse saldo qualitativo se deu a longas penas, afinal o mandato era do partido, e essa jornada de liberdade do mandato em relação ao partido se fez de forma, por assim dizer, “republicana”, afinal o processo eleitoral se dá em nomes e eles foram eleitos como representantes do povo para o parlamento, logo a prestação de contas se dá ao povo, a cada nova eleição!

O aperfeiçoamento fino que a burocracia do PT faz com a teoria stalinista é formidável do ponto de vista da sua inteligência, mas do ponto de vista dos interesses históricos dos explorados foi um duro golpe, pois o partido perdia a única qualidade que ainda era válida para a construção de um processo de insurreição popular. Pois o partido proposto por Lenin, e de certa forma, copiado por Stálin dava poder ao partido, o partido era ponto de recomeço e de partida de todas as ações políticas, ao subtrair do partido a iniciativa pela tomada de decisão do partido para a bancada, o PT simplesmente modificou toda a estrutura de pensamento partidária desde 1917.

O passo seguinte era fazer a transição do parlamento para os poderes executivos, primeiramente foi em âmbito municipal com a conquista de diversas prefeituras, governos estaduais e em 2002 a eleição de Lula para governar o país. Durante esse processo o PT sabotou toda a organização que o Frei Beto afirmou que começou com as CEB’s na ditadura, a UNE e a CUT viraram chapa branca e não servem mais como ponto de canalização das insatisfações populares.

Logo o PT conseguiu elaborar um mecanismo onde seus dirigentes eleitos para mandatos, tanto no executivo como no Legislativo, que não precisam prestar conta ao próprio partido!

Cabendo única e exclusivamente a prestação de contas aos poderes constituídos e assim a normalidade jurídica se fazia primaz em todas as circunstâncias da vida política do PT, sua adaptação não era meramente um processo de continuar a árdua missão de encontrar uma burguesia nacional progressista, mas sim ser o ponto de partida dessa transformação por dentro, pela via eleitoral e ainda sem precisar do partido, da desconstrução da ideia partidária o PT não precisaria mais de ajuda dos movimentos sociais, e sim das relações institucionais e das negociações estipuladas pela cultura política tupiniquim.

A presença de Renan Calheiros no palco não é simplesmente um acinte a toda história de luta do PT, é acima de tudo a vitória de um setor que se desprendeu do stalinismo e evoluiu para uma teoria própria de burocracia, e nela se engendrou mais que uma perspectiva eleitoral, se formou um exercito que precisa da eleição para sobreviver, e que seus resultados sejam a fonte de recursos para seu parasitismo estatal, assim os lemas e aspirações dos explorados não servem mais como ponte para uma realidade a ser transformada, serve apenas para se canalizar insatisfações momentâneas para se obter voto! 

Assim o PT segue, sendo golpeado pelos seus aliados momentâneos e não percebe que em sua loucura em construir políticas públicas inclusivas não resiste a sua condição de casta parasitária do aparelho público, pois a medida que se insere mais e mais pessoas no consumo e nos direitos, a percepção de casta aparece e assim, se constituiu uma nova forma de disputa política, pois a medida que as benesses de seus governos podem aparecer, essas progressão não fecha, pois esses novos setores alçados a cidadania começa uma nova progressão da superação da casta parasitária que o PT se transformou.

E assim um novo ciclo começa e o PT ao continuar andando com os golpista apenas se joga na vala comum da burguesia que tentou sem sucesso representar, e os novos ciclos surgiram, pois deles depende o progresso do sistema capitalista e o PT construir um vertigem que não permite ele enxergar para além de suas necessidade imediatas, e assim segue perseguindo o próprio rabo, com Renan e Jader a tira colo!

E assim, como acaba a meia noite o baile para Cinderela, o baile acaba para o PT quando terminar a eleição, e assim vamos caminhar entre golpes e eleições ad infinitum.





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