terça-feira, 3 de março de 2015

A diversificação do modus operandi da dominação burguesa.


Vivemos em um mundo dividido, e para espanto geral da nação, isso não é uma novidade, nem algo recente, poderia trazer milhares de exemplos históricos, mas vou me ater a um ponto específico na História da Humanidade, o Manifesto Comunista, nele Marx e Engels, selava definitivamente um conceito que até hoje, mesmo os que aceitam ou não aceitam, as idéias do Materialismo Histórico, reconhecem como real, como fato, a sociedade é divida em classes sociais, desde os primórdios da economia escravista, passando pela feudal, chegando até hoje no Capitalismo, mesmo na parca experiência Socialista, as classes sócias antagônicas se manifestaram, e é sobre isso que quero escrever, para poder dar uma luz ao debate que hoje existe sobre a situação conjuntural que o Brasil atravessa.

Vamos começar pelo conceito de luta de classes, antes de tudo, é uma perspectiva histórica e metodológica, pois a partir da constatação que existe lados opostos, que lutam entre si, uma batalha ao longo do decorrer da própria história humana, e que somente, após a contribuição de Hegel, é que o outro lado da história foi descoberto, pois a história contata, descrevia apenas o resultado do lado vitorioso. Dito isto, percebe-se que com a mudança de referencial de um conceito duro e inflexível, a luta de classes é na verdade um método de análise histórica, que percebe em suas entrelinhas, a disputa política de poder nas sociedades, e reconstrói de forma dialógica, as estruturas subterrâneas em que elas são disputadas, e como essa disputa acarreta conseqüências nas relações econômicas de cada época e período histórico particular.

Mas afinal de contas o que é lutas de classes?

A partir da constatação metodológica que existem interesses históricos distintos e irreconciliáveis no seio da sociedade, seja ela atual ou as variantes históricas já ocorridas, pode construir passo a passo, os elementos que as distinguem, ou seja, quais são seus interesses, por exemplo, o mestre escravista e seus escravos, o senhor feudal e os servos, a burguesia e o proletariado. Obviamente que essa distinção sofre, em períodos distintos, deformações que acabam dificultando as suas definições, construindo-se apenas com resíduos de fumaça para disfarçar suas reais intenções.

O processo de desenvolvimento econômico humano sempre levou em considerações os mecanismos de produção estabelecidos, ou seja, estavam bem definidas as divisões do trabalho, cada um segundo as suas origens sociais, e a tal pirâmide social não permitia as interações ou mesmo a elevação de determinado individuo a outras castas sociais. Isso foi muito comum até o desenvolvimento industrial das relações econômicas sociais. Tomemos, por exemplo, o servo que cumprisse com suas obrigações feudais e resolvesse sair das terras do feudo e se aventurar em outro feudo ou mesmo em um porto seco comercial, ele em primeiro lugar não encontraria trabalho com facilidade, o controle produtivo era igualmente, para os lados oposto, uma necessidade de manutenção do sistema feudal, o que dificultava a relocação de mão de obra, pois a produção era mantida a níveis mínimos o que não permitiria novas contratações ao passo que nas cidades comerciais, a renda basicamente girava em torno dos mesmos negócios e dos mesmos dividendos, não haveria crescimento econômico sustentável para se dedicar ao um processo produtivo maior.

Esse processo de estagnação econômica simboliza, não uma paz social, mas um campo de disputa desequilibrado, onde a manutenção das relações sociais, era dependente da manutenção das relações econômicas, e que a menor assimetria desestabilizaria o sistema feudal, o processo primitivo de acumulo de excedente nesse caso ficou localizado em regiões onde o comercio se tornaria a mola propulsora dessa balança igual. Como se hoje fosse um contrato de risco ao contrário, em uma balança de investimento de risco, onde os principais dividendos seriam recompensados aqueles que não tomariam risco nenhum.

Obviamente que com um modelo tão imperfeito o Feudalismo entrou em colapso e deu origem ao atual sistema Capitalista, contudo esse processo teve alguns saltos, como a revolução liberal inglesa, a reforma protestante, a revolução industrial e finalmente a revolução francesa. Cada um a seu modo e a seu tempo, formulou os conceito modernos que ainda hoje reproduzimos, mas depois de 1917, esses conceitos tiveram como obstáculos outros conceitos formulados pelos Comunistas. 

Essa disputa ficou conhecida como Guerra Fria, e que teve seu apogeu na década de 60, sendo seu maior momento de tensão a crise dos mísseis em Cuba e outro momento a chegada a Lua dos astronautas americanos, uma disputa que até então era liderada pelos cosmonautas soviéticos, até hoje a estação espacial em órbita é herança dessa guerra. Assim com seu próprio lado construiu seus mitos e ideologias o processo após a guerra fria estabeleceu outros padrões de dominação e outros mecanismo de influência.

Após a queda do muro de Berlin e o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e de seu bloco econômico, o mundo até então dividido transformou-se rapidamente em um mundo único, com uma linguagem em expansão e totalmente voltada para as novidades tecnológicas programadas para serem lançadas e consumidas em um mundo onde as contradições não eram mais estabelecidas pelos interesses antagônicos de classes, mas sim pela capacidade de se consumir mais ou menos. Pelo menos era isso que a Inteligência planetária queria que acreditássemos.

O processo de construção do fim do Socialismo Real, passou por algumas etapas, a primeira era a transformação do sonho em pesadelo, ou seja, a utilização de elementos que estavam desde a primeira hora da revolução em 1917, em “criminosos”, em “traidores” e assim substituir toda uma geração de revolucionários que experimentados no processo de transformação não aceitariam de forma pacífica esse processo de degeneração do Estado Operário, o golpe final foi o assassínio de Leon Trotsky, no início da década de 40 no México.

O segundo passo era a expansão de uma política reducionista das reivindicações históricas do proletariado, conforme estabelecia-se no ‘Que Fazer” de Lenin, um sistema mundial, o caráter internacionalista da revolução precisa ser quebrado, e o foi, com nuances de perversidade, o retorno ao Capitalismo em uma sociedade sem proteção social gerou um custo que até hoje o continente europeu paga caro.

O terceiro passo era a construção de novas ideologias que permitissem uma pós-modernidade e diversas teorias que foram simplesmente construídas a partir de novas e de antigas receitas, chegaram ao cúmulo de propor o fim da história, contudo o que merece destaque é a que estabelece padrões de dominação de uma civilização sobre outra e como esse processo foi danoso para a própria cultural universal humana, e a partir dessa constatação de colonialismo intelectual e cultural europeu se estabelecia assim definitivamente um substituto coerente e que modifica o inimigo, mas mantém o discurso contra um dominador comum.

O quarto passo foi o refinamento do processo de dominação através da microfisica do poder, a relações sociais exigidas a partir da nova realidade mundial necessitava de uma nova formatação do homem, no que se refere ao seu pensar, ao seu modo de ser e fundamentalmente no processo de aceitação de uma cultura de dominação que fosse, a seu ver, um processo natural, mesmo divino e que se justificasse pela simples aceitação de uma pseudo-evolução. 

Destaca-se nessa compreensão que a microfísica constitui a pormenorização e parametrização das relações de dominações a partir das relações causais e típicas da sociedade, nas pequenas manifestações que são emitidas a partir do senso comum, do ambiente que se está inserido e que comumentemente nos envolve, sem uma percepção crítica, sem uma consciência coletiva, modificando assim até o processo de desenvolvimento genético da raça humana, pois a competição natural pelos “melhores” da espécie, não é mais o processo natural, mas sim uma naturalização de outros processos em níveis mesmo moleculares, tanto em seu sentido biológico como social.

Esse mesmo processo permitiu a inserção de loucuras em determinados agentes sociais, de forma milimétrica ação, que envolve não somente um aperfeiçoamento das linguagens, mas acima de tudo de uma processo de manipulação super-estrutural que incide diretamente no córtex cerebral, discutimos isso em dois artigos já publicados no Dilacerado, “A esquizofrenia do Ser Revolucionário” e a “Revolução no Divã”, contudo está última etapa da eliminação da vanguarda revolucionária custou mais caro que a “inteligência planetária” queria pagar, custou a internet! Contudo, isso é outro debate a qual faremos no momento adequado.

Devemos nos ater no processo de compartilhar as descobertas das novas formas de dominação, que não mais utilizam apenas o aparato repressivo do estado, mas esse refinamento permitiu em primeiro momento formatar o novo explorado, mesmo geneticamente, e que possibilitou os passos seguintes, até a forma atual de convencimento, de ideologização e, finalmente, de construção de verdades.

Os elementos ideológicos dominantes nos processos das relações entre as distantes classes sociais passaram a ter linhas quase imperceptíveis, pois a própria dinâmica social, e do próprio desenvolvimento do capitalismo hoje permite uma movimentação maior na pirâmide social, o que aliais não ocorriam em outros sistemas anteriores, além do que, o processo de gestão foi aperfeiçoado, não mais o chicote, mas sim iguais, a política de frente popular, tão utilizada pelos estados de bem estar social do final das grandes duas guerras mundiais, permitiu a construção de forma de dominação, que antes eram disfarçadas, a social democracia europeu, se constituiu não somente em traidora da classe por pragmatismo, mas fundamentalmente se bandeou de malas e cuias para o outro lado.

Interrompendo de forma definitiva o debate sobre reformas ou revolução, não há mais espaços para reformas, elas são apenas para dar vivacidade ao processo de dominação burguesa e dos interesses do capital, esse é um dos motivos que o surgimento de partidos como o Solidariedade na Polônia, como o próprio PT no Brasil, além de outras variantes como Chavismo, bolivarianismo ou mesmo a continuação do populismo, não foi a America Latina que caminhou rumo a esquerda, foi a esquerda que caminhou para a reação burguesa de suas idéias.

Esse processo só foi permitido devido a uma profunda confusão no estabelecimento teórico dos conceitos atuais, que começou com a queda do Muro de Berlim e todo o procedimento de construção intelectual que permitisse enterra definitivamente o Marxismo como ciência do progresso humano civilizatório e racional. 

A partir do momento em que a esquerda na America Latina, abandona o referencial marxista, mesmo eles sendo em sua maioria stalinista, e apesar dessa deturpação ser completamente avesso, aos conceitos bolcheviques, as contradições entre o discurso e a prática geraram uma série de não “entendimentos” das suas linhas gerais, sendo elas um discurso de radicais, mas com a prática de apoio ao governo Collor quando ele foi eleito governador em Alagoas, ou mesmo apoio ao Jader em seu primeiro e no seu segundo governo no Pará.

Com o PT acontece a mesma coisa, por exemplo, o que o 6º Encontro Nacional chamou de Socialismo Petista, uma forma democrática de socialismo, para se contrapor ao Socialismo existente no Leste Europeu e nas URSS, que estava se desintegrando, o discurso e a arquitetura lingüística foram utilizadas para construção de novos conceitos para justificar as ações claramente de disputa de poder hegemônico para se instalar e administrar o capitalismo, sem a eventual ruptura institucional, ou seja, sem o conceito de revolução derrotado com a queda do muro de Berlim.

Em primeiro lugar o que foi derrotado foi o modelo stalinista, de “socialismo em um só país”, ao abandonar o modelo de construído no Manifesto Comunista de “Operário do mundo todo, uni-vos”, para se constituir primeiro em nossas fronteiras e depois expandir, se mostrou um estratégia digna de qualquer teórico do capitalismo, o Stalinismo foi e ainda o é, a maior estratégia burguesa de combate ao pensamento comunista mundial.

Mas, mesmo assim, matinha o discurso e com isso, gerava uma enorme confusão entre o senso comum, e que acabou sendo promovida a linha principal de combate as idéias socialistas, esse aspecto se tornou relevante à medida que a própria evolução das relações mercantis entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, evoluíram na década de 90, principalmente depois do fracasso do Consenso de Washington, e que culminou com o avanço das esquerdas (ou de suas antigas representações) na America latina.

Deve-se compreender que o processo de refinamento de dominação superou em muito essa típica confusão conceitual da linguagem e da prática políticas dos grupos originários no stalinismo, eles evoluíram para se relacionar em uma dimensão completamente nova, com uma nova linguagem e uma nova roupagem, pois a medida que as estratégias socialista fracassaram, o caminho estava aberto apenas para a idéia de um mundo com apenas um sistema político e econômico.

A luta agora entre a direita e a esquerda era de quem melhor administraria o capitalismo!

Vou encerrar por aqui, as longas postagens no blog não o tornam atrativo, mas fica o compromisso de voltar ao tema, afinal temos o desafio de elaborar sobre a perspectiva atual do país, da luta anti-fascista e, sobretudo, estabelecer, dentro da concepção marxista um esclarecimento sobre em que posição o PT se encontra nessa atual etapa da luta de classes.

Marcelo Bastos.

0 comentários: