sábado, 22 de junho de 2013

Os “vândalos” e os vacilantes!

Os Vândalos foram um dos povos bárbaros responsáveis pela derrota e destruição de um dos mais opressores Impérios da antiguidade: O império Romano.
Enquanto outros povos com muito mais força e organização militar, tais como os Hunos e Visigodos, vacilavam em enfrentar diretamente seu maior inimigo, por vezes aliando-se aos Romanos para garantir alguns privilégios tribais, os Vândalos ousaram mais e, mesmo após várias tentativas de suborno feitas pelos Romanos às suas lideranças, oferecendo-lhes ouro e terra, a cidade de Roma, coração do gigante império, foi invadida pela primeira vez no ano de 455 d.c por esse povo bárbaro sob o comando de Genserico. Tal façanha expôs ao mundo da época a fragilidade do moribundo império abrindo caminho completo para sua ruína e o fim do regime da escravidão marcado com sua queda no ano de 476 por ação de outros povos bárbaros.

A herança cultural do Império Romano, entretanto, persistiu e os novos Estados advindos de sua fragmentação adotaram muitas de suas estruturas de poder, exaltando a civilidade da política romana, fortalecendo e enriquecendo suas elites dirigentes que passaram a oprimir o próprio povo que um dia derramou seu sangue na luta contra Roma para construir essas novas nações. Tão assombroso era para esses novos governantes a hipótese de levante do povo contra sua opressão que trataram de satanizar toda e qualquer manifestação contra seus opressivos regimes como atos de povos Vândalos que destruíram aquilo que de mais avançado havia na humanidade.

Até os dias de hoje o termo é usado pejorativamente para designar aqueles que se comportam “à revelia da civilidade”. Nas manifestações de massa ocorridas no mês de junho de 2013 em todo o Brasil, “vandalismo” foi a palavra preferida da imprensa para desclassificar o repúdio do povo. Primeiro, se referindo à todos e depois, ao cair sua máscara farsante, atribuiu o adjetivo à pequenos grupos. Contudo, assim como na derrota de Roma os Vândalos tomaram à frente enquanto todos os outros povos vacilavam, nas ruas das cidades brasileiras foram os mais radicais que impuseram medo aos poderosos e lhes fizeram recuar na imposição dos aumentos abusivos nas tarifas dos transportes públicos. Conquanto as manifestações ocorressem totalmente pacíficas e dentro da ordem legal do sistema, nenhum risco obrigaria os governantes a recuarem, pois assim o foi enquanto acreditavam que a violenta repressão policial às primeiras manifestações iria debelar o movimento.

O pacifismo brasileiro é alimentado pela superestrutura do Estado capitalista, exaltado com orgulho pelos poderosos, para sempre domesticar o povo a aceitar silentemente a opressão. A luta social sempre é retratada pelos meios de comunicação como ato não civilizado que só gera transtorno para o país e sua população.
A mídia jogou pesado para confundir e dividir a população trabalhadora, colocando uns contra os outros, classificando de vandalismo e usando a mesma tipificação criminal tanto para descrever a conduta dos manifestantes mais radicais em suas investidas contra as sedes do poder político como também as dos os saqueadores de lojas e supermercados. Induz o povo acreditar que os prédios que abrigam a chefia dos governos executivos e os parlamentos, são patrimônios públicos intocáveis, escondendo o significado que suas ocupações pudessem produzir no curso de uma luta pelo poder, tratando como bandido comum qualquer um que ouse a violá-los.
A sede de um poder é o símbolo maior de um regime político instalado e sua ocupação pelo povo significaria sua própria derrocada. A destruição dos equipamentos públicos e até de bens particulares nas mobilizações que fogem ao controle do Estado, são toleradas para que tais atos de imprudência sirvam para criminalizar de forma geral a luta contra o regime. Porém, a repressão é violentamente desencadeada quando o regime se sente ameaçado em suas principais simbologias.

Nossos “vândalos” não são melhores e nem piores do que aqueles que abriram as portas de Roma para sua ruína. São os poucos radicais que não vêem mais saída institucional para os problemas do Brasil e não mais apostam em mudança de governo e sim de regime. Embora muito poucos e confundidos com bandidos comuns pelo trabalho da mídia, foram eles que deram visibilidade positiva ou negativa ao movimento, fazendo-o crescer e chamando atenção do mundo. Entendem que lutar sem objetivar o poder é uma luta vã e que apesar de serem os mais feridos pela ação da repressão, são ainda duramente criticados pelos vacilantes que acham que nossos problemas serão resolvidos apenas com diálogos, eleições corrompidas e pautas imediatistas. Ao contrário dos governantes corruptos que depredam a vida, causando sofrimento e a morte muitas pessoas que são vítimas dos saques aos recursos públicos que deveriam se destinados à saúde, educação, moradia, transporte, segurança e etc, os “vândalos” de junho de 2013 depredam os pilares morais do opressivo regime político brasileiro.

Vamos à luta na grande mobilização do dia 22/06, a Rede Globo não deve dar a direção para as manifestações do povo brasileiro!


Reginaldo Carvalho (
https://www.facebook.com/reginaldo.carvalho.9066?fref=ts)

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