2.1 Aprendizado nas Organizações
Para
Kanaane (1995, p. 62),
a
organização é um sistema integrado de subsistemas interdependentes, havendo
intercâmbios entre os respectivos elementos: clima, cultura, estrutura,
sistemas administrativos. A missão, os objetivos, a tecnologia, o produto, as
atividades, a própria estrutura e os trabalhadores constituem o nicho
organizacional.
Pode-se entender,
então, que a organização é, em sua essência, o produto da integração dos
membros que a compõem, pois o resultado das mais diversas personalidades que
nela interagem com os seus valores e crenças possibilita à empresa constituir
uma identidade própria.
A cultura de uma
organização se desenvolve na medida em que as pessoas aprendem a achar soluções
para as questões internas e externas com que se deparam os sistemas sociais.
De acordo com Schein
(1986, p. 56):
Cultura
organizacional é o padrão de premissas básicas que um determinado grupo
inventou, descobriu ou desenvolveu no processo de aprender a resolver seus
problemas de adaptação externa e de integração interna e que funcionam bem o
suficiente a ponto de serem consideradas válidas e, portanto, de serem
ensinadas a novos membros do grupo como a maneira correta de perceber, pensar e
sentir com relação a esses problemas
.
Isso evidencia a
presença do aprendizado humano em toda e qualquer situação da vida humana
associada. Popularmente, o termo cultura se refere ao modus vivendi de
qualquer sociedade e até mesmo à bagagem de conhecimentos adquiridos por uma
pessoa no decorrer de sua vida, através de experiências pessoais ou daqueles
adquiridos nos bancos escolares.
Para Schein (1982, pg.
12)
cultura
organizacional é um conjunto de pressupostos básicos inventado, descoberto ou
desenvolvido por um
dado grupo, à medida que aprende a lidar com seus problemas de adaptação
externa e de integração interna, que tenha funcionado bem para ser considerado
válido e, assim, ser ensinado a novos membros como forma correta de perceber,
pensar e sentir em relação àqueles problemas.
Nesse sentido a cultura
assume importância a medida que se compreende a função da cultura
organizacional nos diferentes setores da
organização, pois a ele compete não somente as estruturas formais de poder, mas
as informações e com elas toda uma sorte de elementos que permite distinguir as
ações diária dentro da organização
Para Srour (1998, p.
56)
a
cultura organizacional forma um sistema coerente de significações e funciona
como um cimento que procura unir todos os membros em torno dos mesmos objetivos
e dos mesmos modos de agir. Sem referências próprias, as organizações ficariam
à mercê das convicções individuais de seus membros diante de situações novas e
certamente sofreriam prejuízos dada a disparidade de procedimentos e
orientações.
Ao conceituar clima organizacional,
há uma necessidade de diferenciação em relação a outros conceitos que se
assemelham. Clima organizacional se refere a descrições coletivas do ambiente
da organização, enquanto que o clima psicológico, às vezes usado como sinônimo,
é pertinente às descrições individuais dos processos organizacionais (JOYCE
& SLOCUM apud BÄR, 1995, PG. 53)
2.2 O
Processo de Aprendizagem Individual
Para Fleury (1995, PG.
14), “aprendizagem é um processo de mudança resultante de prática ou
experiência anterior, que pode vir, ou não, a manifestar-se em uma mudança
perceptível de comportamento”. O que cabe destacar é que a organização que faça
a opção pelo treinamento acredita na aprendizagem individual de seu colaborador
e certamente ao fazer esse tipo de investimento terá resultados futuros
garantidos.
Duas vertentes teóricas
sustentam os principais modelos de aprendizagem: o modelo behaviorista e o
modelo cognitivista. No caso do primeiro, o foco principal é o comportamento,
que é observável e mensurável, partindo do princípio que a análise do
comportamento implica no estudo das relações entre eventos estimuladores,
respostas, conseqüências. Planejar o processo de aprendizagem implica definir
todo o processo em termos passíveis de observação, mensuração e réplica
científica.
O modelo cognitivista
caracteriza-se por ser mais abrangente do que o behaviorista, explicando melhor
fenômenos mais complexos como a aprendizagem de conceitos e solução de
problemas. Considera dados objetivos, comportamentais e subjetivos, levando em
consideração as crenças e percepções dos indivíduos que influenciam seu
processo de apreensão da realidade.
“A aprendizagem
constitui um evento interno, não observável, inferido através do desempenho das
pessoas” (LOMÔNACO apud FLEURY, 1995,
p. 13). O homem aprende através de processos interativos, conduzindo
experimentos e observando suas conseqüências, compreendendo e aprimorando o que
aprende.
A aprendizagem humana
pode acontecer de duas maneiras diferentes: a aprendizagem por descoberta a partir
de uma ação e a aprendizagem por instrução. A aprendizagem por descoberta,
também conhecida como aprendizagem em primeira pessoa, nos leva a um saber
fazer e a aprendizagem por instrução, ou seja, em terceira pessoa, nos conduz
ao simples saber.
Em primeira pessoa, a
aprendizagem possibilita ao aprendiz uma compreensão do saber, pois fazendo ele
pode construir o aprendizado e, com isso, pensar o seu próprio pensamento. A
aprendizagem em terceira pessoa consiste numa transferência pura e simples de conhecimento,
o que inviabiliza ao indivíduo a criação da sua própria opinião e de diferentes
ideias sobre o mesmo tema.
Handy (1995) explica
isso através do que ele chama de Ciclo de Aprendizagem (Figura 1), que pode ser
visto como um círculo composto por quatro momentos: questionamentos, ideias,
testes e reflexões. A curiosidade leva o indivíduo a questionar. Esse
questionamento dará origem às ideias e captura de informações. Isto por sua
vez, vai exigir a experimentação para a comprovação. O resultado final será
alcançado depois de reflexão e análise.
Essa conclusão será questionada e o processo se reinicia, tornando-se
sucessivo.
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Figura 00 - Ciclo de Aprendizagem
Fonte: Handy (1995).
O aprendizado só
acontece se o ciclo se processa inteiro. É a transição de um saber fazer a um
saber que caracteriza a aprendizagem. Mas isso não ocorre naturalmente, ou
seja, a aprendizagem só vai ter realmente acontecido quando o indivíduo for
capaz, após ter feito uma reflexão sobre o assunto, de construir uma maneira
própria de justificar os resultados obtidos. O aprender a aprender consiste na
automatização deste processo de abstração reflexiva, levando o indivíduo à
capacidade de pensar o seu próprio pensamento.
2.3 A
Aprendizagem Organizacional
Entender como se dá a
aprendizagem humana nas organizações é o ponto de partida para se começar a
trabalhar uma questão que vem desafiando o ser humano trabalhador: a velocidade
com que as mudanças acontecem versus a capacidade do indivíduo de absorver
tanta informação que chega até ele.
Em outras palavras, o
desenvolvimento tecnológico se desenvolve de tal maneira, que a educação humana
já não tem se demonstrado capaz de acompanhá-lo. Os canais de comunicação têm
se ampliado e as pessoas recebem milhares de informações todos os dias o dia
inteiro. Mas muitas destas informações precisam se tornar conhecimento a fim de
manterem o trabalhador capaz de desenvolver as suas atividades de acordo com o
que o mundo impõe. Eis a grande dificuldade: como proporcionar ao ser humano um
mecanismo que, se não zerar esta diferença, pelo menos o faça perceber-se num
ritmo mais justo e realmente produtivo. Um efetivo processo de mudança vai
passar, necessariamente, por um grande processo de aprendizagem.
Diversas rotinas são
desenvolvidas no cotidiano das empresas. Em outras palavras, procedimentos
relativamente padronizados são criados para lidar com problemas internos e
externos. Estes vão se incorporando de forma explícita ou inconsciente na
memória organizacional, sugerindo que o aprendizado organizacional pode
acontecer de maneira acidental ou intencional. O aprendizado não acidental ou
intencional geralmente começa com uma conscientização da necessidade de mudar
alguma coisa ou em função de um sentimento de insatisfação. O processo de
aprendizagem em uma organização não só envolve a elaboração de novos mapas
cognitivos que possibilitem a melhor compreensão do que está acontecendo em seu
ambiente externo e interno, mas também a definição de novos comportamentos que
comprovam a efetividade do aprendizado.
Para Hedberg (apud FLEURY, 1995), as organizações
podem não ter cérebros, mas têm sistemas cognitivos e memória. Garvin et al (1998) diz que o processo de
aprendizado em uma organização, assim como o aprendizado individual, é composto
de quatro fases: conscientização, compreensão, ação e análise.
A diferença consiste no
fato de que no aprendizado organizacional estes quatro estágios representam
tarefas coletivas: criar uma conscientização compartilhada da necessidade de
aprender, desenvolver uma compreensão comum do que precisa ser feito, iniciar
ações alinhadas com a estratégia corporativa para melhorar o desempenho e
conduzir análises conjuntas tirando conclusões.
Para Senge (1990), as
organizações devem desenvolver o que ele chama de cinco disciplinas
fundamentais para este processo de inovação e aprendizagem. Ele se refere a
elas como cinco programas permanentes de estudo e prática que levam ao
aprendizado organizacional.
A primeira disciplina,
chamada por ele de domínio pessoal, é a disciplina do auto-conhecimento.
Significa aprender a expandir as capacidades pessoais para obter os resultados
desejados e criar um ambiente organizacional que estimule a todos os
participantes na busca das metas definidas.
A segunda disciplina,
modelos mentais, consiste em refletir, esclarecer e melhorar continuamente a
imagem que cada um tem do mundo, com o objetivo de adaptar atitudes e decisões.
A terceira é o que o
autor batizou de visão compartilhada ou objetivo comum, que consiste em
estimular o engajamento do grupo em relação ao futuro, elaborando as diretrizes
que permitirão seu alcance.
A quarta disciplina, o
aprendizado em equipe, transforma talentos e idéias individuais em coletivos,
de maneira que a soma do conhecimento do grupo seja maior do que o conhecimento
individual.
O pensamento sistêmico
é a quinta disciplina. Integrando as demais num conjunto coerente de teoria e
prática, cria uma forma de analisar e uma linguagem para descrever e
compreender as forças e inter-relações que definem o comportamento de cada
sistema, evitando que as demais sejam vistas e analisadas de forma isolada. O
pensamento sistêmico proporciona maior eficácia nas mudanças, além de fazê-las
de acordo com o que o ambiente exige.
2.4
Conceitos Relativos a Organizações de Aprendizagem
Deve-se compreender que
o processo relativo a aprendizagem nas organizações passa fundamental por
descobrir que:
Um
pensamento de organização que não compreende a relação auto-eco-organizadora,
isto é, a relação profunda e íntima com o meio ambiente, que não compreende a
relação hologramática entre as partes e o todo, que não compreende o princípio
de recursividade, um tal pensamento está condenado à insipidez, à trivialidade,
isto é, ao erro. (MORIN, 1990, p.179.)
O trabalho pode ser
caracterizado como o resultado da ação intencional dos homens sobre a natureza.
Este processo reproduz um dilema, onde por um lado possibilita inovações
científicas, tecnológicas e organizacionais, mas por outro demonstra o quanto o
homem foi transformado em mero objeto das relações de trabalho.
Atualmente, a
tecnologia determina os processos e a organização do trabalho e isso de certa forma
coloca a figura humana em segundo plano. A objetividade científica e da
tecnologia se tornaram indiferentes a certos critérios éticos. A Escola das
Relações Humanas de Elton Mayo (apud
HERSEY et al, 1995) afirma que além
de se procurar os melhores métodos tecnológicos para aumentar a produção, é
fundamental a preocupação com a questão humana. Em outras palavras, sustenta
que os verdadeiros centros de poder numa organização são as relações
interpessoais que se desenvolvem no ambiente organizacional.
Schein (1982) diz que
para se compreender como as organizações funcionam, é necessário, em primeiro
lugar, compreender como funcionam as pessoas nessas organizações. Com a mudança
das oportunidades e desafios empresariais, as pessoas estão mudando os processos
de trabalho, as suas relações, o seu relacionamento com as tecnologias e mesmo
os valores e as direções adotadas. Assim, a flexibilidade torna-se mais do que
uma necessidade em um tipo de vida em que tudo se transforma rapidamente.
A organização de aprendizagem
consiste em um modelo que eleva o papel do ser humano nas organizações
envolvendo seus corações e suas mentes num processo de aprendizado e de mudança
contínuo, harmonioso e produtivo, sendo projetada para atingir os resultados
desejados através da enorme força criativa de cada um dos indivíduos
comprometidos com tal organização.
Senge (1998) define uma
organização de aprendizagem como aquela na qual as pessoas aprimoram
continuamente suas capacidades para criar o futuro que realmente gostariam de
ver surgir. Ele afirma em relação a isto que a tecnologia não tem um impacto
tão grande assim, afinal as mudanças nessa área sempre estiveram relacionadas
com as pessoas e não com a tecnologia.
Uma pessoa pode até
receber mais informações graças à tecnologia, mas se não possuir as capacidades
necessárias para aproveitá-las, não adianta. Segundo Bartlett et al (1998), a era do planejamento
estratégico está se transformando rapidamente em era do aprendizado
organizacional. Um estudo realizado por eles durante seis anos, envolvendo
vinte empresas que passaram por uma transformação profunda para se tornarem um
modelo de organização capaz de sobreviver, evidenciou três características
presentes em todas as empresas estudadas: o foco nos melhores funcionários, os
fluxos horizontais de conhecimento e a cultura de confiança.
Numa economia baseada
em serviços e na era da informação, o recrutamento e o desenvolvimento de
pessoal tornaram-se funções fundamentais. Essas atividades podem ser
consideradas atualmente como o âmago da competitividade de uma empresa. Por
isso, a função de recrutamento é acompanhada pelos próprios executivos da
empresa da alta administração e o tempo despendido para isso não é mais mínimo.
Manter estes funcionários especiais também é tarefa fundamental e constante.
Além desta poderosa
ferramenta, a caça a pessoas especiais, existe também a necessidade da criação
de um fluxo horizontal de conhecimento que consiste na montagem de canais de
comunicação que facilitem a distribuição rápida de informações estratégicas.
A organização voltada
para o aprendizado precisa ser capaz de transferir, compartilhar e alavancar
conhecimentos e experiências fragmentados. Outra característica encontrada, a
cultura baseada na confiança, é de grande importância para que as pessoas
troquem estas informações e experiências que antes constituíam sua fonte de
poder. Mas para criar esta cultura é exigido que um conjunto autêntico de
valores e crenças comuns unam os vários membros da organização
Além das pessoas e da
produção, existe uma terceira dimensão: a plenitude. Esta constitui a mola
mestra deste novo modelo de organização, ou seja, uma cultura organizacional
holística. As organizações e através delas as tecnologias, devem contribuir
para que o homem atinja plenamente o seu potencial, o seu destino de maneira
inteira e completa. Além de se apresentarem como uma grande escada para o
sucesso do homem, as organizações podem contribuir para devolver a dignidade ao
trabalho humano.
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