Normalmente o processo de debate sobre o que está acontecendo no mundo nos dias atuais é relegado ao segundo plano, mas o fato é que com o desenvolvimento mercantil das relações econômicas, advindos desde os tempos de Cabral o mundo se encurtou as distâncias e, por conseguinte, essas mesmas relações hoje determinam o movimento de commodities e o que pode ou não podem ser considerados ativos no processo de expansão das ondas de abutres dentro dos processos macroeconômicos.
Obviamente que esse processo se dá torna mais relevante a medida que ele entra e sai de diferente países, isso determinará para que lado a especulação se dirige, mas na certa, países com taxas maiores de juros são os alvos preferenciais, sobretudo aqueles onde as instituições bancárias tem seu lastro balizados pelos governos em polpudas reservas cambiais, como é o caso do Brasil.
A relação entre entrada e saída de dólares na economia de países emergentes é a balança de sua progressiva taxa de crescimento, ao passo que seu inverso, ou seja, as taxas inflacionárias são mantidas sob controle, é equivocado pensar que o descontrole de contas públicas gera inflação, o que é o centro desse debate é a qualidade das remessas dos lucros líquidos dessas operações financeiras, à medida que elas são proporcionalmente menores ao risco, tende- a elevar-se a taxa de inflação para que as taxas de juros possam elevar e, com isso, a ciranda completa-se, aumentando invariavelmente sua taxa de lucro liquido.
Estamos vendo isso ocorrer na Grécia de uma maneira mais completa, a Argentina foi e ainda é um exemplo desse processo, contudo esses fundos se movimentam a revelia de governos locais, e mesmo dos organismos internacionais, como é o caso da União Européia. Mesmo a ajuda financeira dos organismos internacionais ainda não são relevantes frente a ansiedade desses mercados, ansiedade provocada pela exigência de mais lucros, o que faz que eles se mudem de contas em contas para paraísos que elas são mais atraentes.
Na Grécia temos algumas particularidades, com a ameaça de ruptura do mercado comum, o que geraria um atraso nas relações comerciais de países que estão juntos desde a década de 90 do século passado, o que provocaria uma corrida para atraírem voláteis capitais para seus países, o que resultaria imediatamente em uma competição interna, maior mesmo que a subida do dólar pelo Banco Central Americano. Quebrando a insustentável aliança mercantil na Europa, países como Alemanha, França e Inglaterra por mais solidas que possam parecer suas economias, levariam determinada vantagens, mas menor vantagem se transformaria a atual forma de disciplinar esse tipo de capital, como vem ocorrendo hoje.
Apesar do jogo de cena do Eurobloco, a ajuda financeira a base de empréstimo para Grécia era uma necessidade do Mercado Comum, e não apenas da Grécia, agora, as garantias contratuais exigidas são apenas a forma de financiamento dessa dívida, ou seja, como se pretende pagar por ela nos próximos anos, e a forma encontrada foi a perda da qualidade de vida do povo grego, e isso ainda é uma luta política a ser travada, já que por unanimidade as reformas estão sendo aceitas, da mesma forma que um terrorista corta uma garganta no sul do Iraque, o Mercado Comum Europeu corta na carne do povo grego essa sua própria salvação.
Outro ponto de desequilíbrio hoje na Europa é o fluxo de pessoas fugindo de locais em guerra, os chamados refugiados começam a pesar no processo de ajuda humanitária, e alguns países começam a erguer secas para impedir, os maiores números de refugiados são da África e da Ásia Menor, as guerras atuais em sua maioria ainda escondem os seus reais motivos, como por exemplo, o controle de regiões produtoras de petróleo, ou de minas de minérios, ou mesmo a acesso a água potável, mas se continuar a atual demanda é bem provável que a OTAN comece a bombardear os navios que fazer essa rota no Mediterrâneo.
Em contrapartida a isso no Oriente Médio, mesmo Israel descumprindo mais de 40 resoluções da ONU sobre os territórios ocupados, o genocidas judeus continuam bombardeando a faixa de Gaza, que genuinamente se defende dos agressores, e enquanto isso a comunidade internacional fecha aos olhos a luta de sobrevivência do povo palestino, aumentando o ódio e o sentimento de revanche do povo árabe. Não é a toa que o Estado Islâmico encontra terreno fértil para suas ações e cooptações de militantes anti-fascistas no mundo todo.
O próprio Estado Islâmico é ainda um braço das frágeis correlações de forças que se mantinham controladas no Iraque por Hussein, missão primária dada a ele pelos EUA, com a sua morte e consequentemente o esfacelamento do Estado Iraquiano, as novas correlações de forças locais ainda não chegaram a um momento de conclusão dessas lutas internas o que ainda resulta em muitos conflitos.
Com o aumento de produção do Petróleo pela OPEP fazendo com que os preços internacionais do barril se mantenham em índices baixos, a economia dos países desenvolvidos, mas precisamente a China, a Europa e o próprio EUA mantiveram-se estáveis, com menor taxa de crescimento, mas com atrativos mercados aos capitais voláteis.
Na China apesar da desaceleração da economia, as taxas desse ano ainda são uma das mais altas taxas do planeta, podendo chegar aos 7%. A China em contrapartida tem sólidos investimentos na Ásia e na America Latina, principalmente em infraestrutura, para diminuir os custos da logística, que resultará em dividendos futuros para seus commodities, apesar da diminuição de sua taxa de crescimento interno a China investe pesadamente nas relações econômicas com outros blocos, como é o caso do Brasil, onde a China pretende investir mais de 250 bilhões de dólares nós próximos dez anos, só a rota das províncias mineradoras do Brasil e uma saída para o Pacifico já valeria o investimento, hoje o aço brasileiro é um dos principais produtos de exportação da China.
A China nós últimos anos teve um impressionante crescimento econômico, o que arrastou a econômica planetária para esse boom, principalmente as econômicas emergentes que mantiveram com a China parceria comercial, mas com a diminuição do trem chinês, a econômica do planeta começa a vazar água, e a crise mundial afeta diretamente esses mesmo parceiros.
Antes de falarmos como isso atinge o Brasil, deve-se colocar outro momento conjuntural importante para se compreender a atual etapa de desenvolvimento da luta de classes, as eleições presidenciais americanas estão em sua fase de maior debate, afinal a escolha dos dois principais partidos americanos para o pleito exige um fôlego maior dos pré-candidatos a substituir Obama, que em fase final de mandato tenta desesperadamente cumprir com sua imaginativa missão histórica, como é o caso da aproximação com Cuba ou mesmo o acordo nuclear com o Irã, em ambos os casos, Obama precisa da aprovação do Congresso Americano, que tem a maioria de republicanos, além é claro da aprovação do ajuste fiscal proposto por Obama.
Em todo caso, as prévias dos partidos antecipam esse debate e trás a tona as mais perversas percepções das diferenças ideológicas americanas para o mundo, não vou entrar nos detalhes de cada uma, teremos tempo, o que cabe salientar é que as propostas de Obama no congresso deverão ser recusadas o que causará tremendo mal estar, mas caberá a Obama a última palavra, o fato é que o EUA continua sendo o termômetro dos capitais voláteis e com a atual política monetária de Obama, deve continuar ainda por mais tempo, sem contar que ainda mantém o controle sobre o preço dos principais produtos de sua linha de exportação.
No próximo artigo concluiremos essa análise com o Brasil!